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Olho Vivo

Quaresma 1

Dois dos mais ilustres literatos brasileiros remexeram-se no túmulo quando leram nesta coluna, na sexta-feira, uma estafúrdia confusão: Policarpo Quaresma é personagem da obra de Lima Barreto e não, como erradamente constou, de Machado de Assis. Barreto reclamou porque não lhe foi atribuída a genial criação; Machado, na sua ironia, preferiu não dizer nada, pois considerou o erro um elogio à qualidade de sua copiosa arte literária.

Quaresma 2

A lamentável confusão do colunista só encontra paralelo com outra, protagonizada pelo governador Roberto Requião que, repetidamente, declamava e atribuia a Maiakovski, o maior poeta russo moderno, um texto que na verdade era de autoria de obscuro escritor gaúcho.

Traduções 1

Tudo isso veio a propósito dos comentários feitos na sexta-feira à lei proposta pelo governador, aprovada pela Assembleia no apagar das luzes da véspera do recesso, que obriga constar das peças publicitárias a tradução de palavras estrangeiras eventualmente nelas empregadas. Muita gente considera a ideia (e a lei, claro) uma boa piada. Não é: ela deve ser levada muito a sério, inclusive quando a Agência Estadual de Notícias (AEN) escreve nos releases (?) oficiais do governo do estado palavras estrangeiras.

Traduções 2

Em consulta às matérias publicadas pela AEN nos últimos 15 dias, foi anotado o uso das seguintes palavras, para as quais sugerimos as traduções recomendadas pelos mais renomados especialistas ou dicionários. Por exemplo:

- Marketing. Pode ser traduzido para o português como "mercância" ou "mercadologia".

- Crack. Tradução: "droga ilegal obtida a partir da merla, uma variação da pasta de coca".

- Shopping. Como ninguém sabe do que se trata, traduza-se como "centro de compras".

- Outdoor: meio publicitário exterior, em placards (?) modulares, disposto em locais de grande visibilidade.

- Leisure. O termo não consta de nenhum release do governo, mas a tradução é ócio. E ócio, segundo o Aurélio, significa "falta de trabalho; desocupação". O que pode explicar o surgimento da ideia da lei das traduções na publicidade.

Tempos atrás, quando um deputado da oposição apresentou na Assembleia um pedido para que o governador mandasse comprar um raio-x para o município de Castro, o líder da situação, Luiz Cláudio Romanelli, achou muita graça. Disse que pedidos do gênero feitos pela oposição serviam apenas para o parlamentar fazer "média" com o eleitorado, pois de antemão sabia que não seria atendido. "O governador tem compromissos e atende apenas quem o apoia na Assembleia", explicou Romanelli.

Donde se conclui que a saúde do povo não passa de uma questão político-partidária. Ou, para sermos mais condescendentes com o líder do governo, pedidos de deputados não precisam ser apresentados porque todas as cidades já estão muito bem equipadas com aparelhos médicos.

Não é, porém, o que já constatou a Comissão de Saúde da Assembleia ao tabular os primeiros 80 questionários já respondidos de um total de 399 enviados aos secretários municipais de saúde do estado. Dentre outros quesitos, o questionário propõe que os secretários respondam se, no seu município, há falta de equipamentos médico-hospitalares para atender a população e se a aquisição é urgente.

Pois bem: considerando apenas 80 cidades do Paraná (só 20% dos municípios do estado), o balanço de necessidades urgentes forma uma lista de 171 solicitações! Dessas solicitações, 26 correspondem a aparelhos de raios-x, 17 a ambulâncias, 13 a eletrocardiógrafos, 7 a mamógrafos.

Os secretários estariam exagerando nos seus pedidos? É melhor fazer essa pergunta ao povo que precisa viajar de um lugar para outro às vezes só para fazer um simples raios-x da perna quebrada.

A lista está muito incompleta. A Comissão de Saúde, segundo informa seu presidente, deputado Ney Leprevost (que se classifica de independente e não de oposição), espera o recebimento dos 319 questionários que faltam para encaminhar os resultados à Secretaria da Saúde. Lá também estará registrado o conceito (excelente, bom ou ruim) que os municípios fazem do trabalho do governo estadual no setor de saúde.

Não há informação de que o relatório será também enviado aos deputados situacionistas. Quem sabe, de acordo com o que disse Romanelli, eles consigam o que os de oposição nunca conseguirão.

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