Operou-se ontem uma visível mudança de estratégia do candidato Beto Richa para enfrentar o adversário Osmar Dias. A mudança ficou patente no programa eleitoral de televisão apresentado à tarde. Nele foi reproduzido um vídeo de 2008 com um discurso feito por Osmar hipotecando seu apoio pessoal e do PDT quando do lançamento da candidatura de Richa à reeleição para a prefeitura de Curitiba. São desse discurso as seguintes palavras:
"O PDT faz isso independentemente daquilo que acontecerá em 2010 com Beto e seu partido. Não nos interessa fazer nenhuma barganha em troca do apoio que estamos dando. Estamos oferecendo nosso apoio de forma espontânea. O PDT não exige nada. Queremos que o Beto continue com esse trabalho que tanto nos orgulha e é modelo para o Brasil".
Ficam claros os objetivos da operação desencadeada pelo comando da campanha de Beto Richa. Um deles é levar ao descrédito as frequentes afirmações de Osmar de que havia sido selado o compromisso de Beto de apoiá-lo em 2010. Outro, é levar os eleitores a entenderem que, se até o presidente Lula foi vítima das informações falsas que teriam sido transmitidas por Osmar, o que o povo pode esperar do candidato pedetista daqui pra frente?
Não há dúvida de que levar o adversário à perda de credibilidade junto à opinião pública é uma estratégia que pode ser eficaz e se refletir nas pesquisas e nos resultados eleitorais.
Entretanto, pode ser também um jogo muito perigoso. Pois se Osmar, dentro de uma determinada circunstância histórica, fez aquelas afirmações elogiosas a Beto, não é nada improvável que os arquivos do outro lado também guardem registros de declarações de Beto enaltecendo o agora adversário. Logo, é também provável que os coordenadores da campanha tucana, ao tomarem a decisão de mostrar aquele vídeo, tenham imaginado a possibilidade de receber chumbo grosso de volta.
O que, talvez, não tenha ficado muito claro para os telespectadores surpreendidos com o antigo discurso de Osmar, é que seu uso pode denotar alguma preocupação por parte dos estrategistas de Beto Richa em relação aos rumos da própria campanha. Suas pesquisas internas teriam medido algum avanço no desempenho de Osmar Dias? Para quem, segundo o Ibope e o Datafolha de 10 dias atrás, estava de 13 a 16 pontos à frente do adversário, usar tiro de canhão desse calibre para atingi-lo pode significar que a distância tenha sido perigosamente diminuída nos últimos dias.
A hipótese de que só poderá ser confirmada (ou desmentida) por uma nova pesquisa independente aliás prevista para este fim de semana, quando o Datafolha/RPC divulgará as tendências que está coletando neste feriadão em todo o estado. É possível que esta nova pesquisa já detecte se o comício ocorrido quinta-feira passada, em Foz do Iguaçu, quando presidente Lula, ao lado de Dilma, pediu votos para Osmar, produziu efeitos.
Nenhuma fonte da campanha tucana confirma que sua estratégia tenha sido motivada por uma suposta sensação de que o efeito Lula tenha beneficiado Osmar. Nem comenta a eventual repercussão do tiro disparado. O programa de televisão da noite, talvez por precaução, não repetiu o disparo.
Metodologia
A pesquisa Datafolha foi realizada entre os dias 23 e 24 de agosto de 2010. Foram realizadas 1.211 entrevistas em 45 municípios, com margem de erro de 3 pontos porcentuais para mais ou para menos. O levantamento foi registrado no TRE com o número 19.550/2010 e no TSE com o número 25.427/2010.



