Enquanto candidatos e políticos em geral saltitam sobre palanques, silenciosamente avança uma negociação importante na área de transportes entre os governos estadual e federal. Afastado o delírio que o ex-governador Roberto Requião estimulava, que pretendia penhorar a Ferroeste para viabilizar um estranho trajeto ferroviário, chamado de Ferrosul, para atender outros estados, está agora em gestação um novo projeto considerado mais realista por técnicos do setor.
A coluna teve acesso a um esboço do projeto, ainda em fase de estudos de viabilidade, que está sendo discutido pela Secretaria dos Transportes com os ministérios do Planejamento e Transportes e com a Agência Nacional dos Transportes Terrestres (ANTT). Ele prevê a complementação da Ferroeste cujo atual trecho, de 250 quilômetros, liga apenas Cascavel a Guaraqueçaba no sentido Oeste até Guaíra e, a Leste, até Paranaguá, com cerca de 650 quilômetros de extensão total.
A ideia é concluir o novo traçado do trecho Curitiba-Paranaguá, iniciado na década de 70 e abandonado após 40 quilômetros de obras. Sem resolver o gargalo da Serra do Mar, complicado trecho final de acesso ao Porto de Paranaguá, qualquer outra iniciativa perde grande parte de sentido. Por isso a prioridade é a Serra do Mar.
Outra característica do projeto é o abandono da ideia de fazer o desvio Ipiranga, que ligaria a Ferroeste, a partir de Guarapuava, à linha da Central do Paraná (hoje sob operação privada, da ALL). O novo traçado viria de Guarapuava passando por Irati para chegar a Curitiba.
Os investimentos não foram ainda calculados, mas, segundo o secretário dos Transportes, Mário Stamm Jr., tão importante quanto os aspectos da engenharia é "a mudança radical de conceitos que estamos propondo". O conceito proposto foi inspirado no modelo europeu de administração ferroviária, em vigor principalmente na Espanha.
Funciona mais ou menos assim: os governos constroem a linha ferroviária, mas a operação será compatilhada por quem estiver interessado. Por exemplo: as cooperativas do Oeste do Paraná podem ter seus próprios trens e utilizar a via para levar suas cargas de grãos até o Porto de Paranaguá, pagando exclusivamente pelo direito de tráfego. A estimativa é que, com este modelo, será possível transportar de 8 a 10 milhões de toneladas/ano com maior eficiência, a custos mais baixos e com retorno mais rápido e seguro dos investimentos feitos na implantação da ferrovia.
"É como funcionam os aeroportos" explica Stamm. "O governo constrói as pistas e as estruturas de operação, mas os aviões são de companhias privadas que pagam por sua utilização. O modelo que estamos propondo se assemelha a isto e está sendo estudado com interesse pelo governo federal."
Várias rodadas de negociação já foram realizadas. O secretário espera que dentro das próximas semanas os entendimentos sejam formalizados e se iniciem estudos conjuntos para a realização de projetos básicos e de viabilidade técnica e econômica.
* * * * * * * * * * * * * *
Olho vivo
Pires 1
O vereador Denilson Pires (DEM), preso na semana passada sob suspeita de desvio de verdas do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Curitiba (Sindimoc), é autor de dois projetos na Câmara Municipal. Um deles concedo o título de cidadão honorário ao ex-vereador cassado Valdenir Dias preso com ele na mesma operação deflagrada pelo Ministério Público, como participante do mesmo esquema. Outro projeto, se aprovado, embora tão insensato quanto o primeiro, teria consequências mais graves.
Pires 2
Denilson, que atua como obediente membro da base de apoio do ex e do atual prefeito da capital, foi autor do Projeto de Lei 005.00089.2010 que, se adotado, permitiria a extensão da vida útil do lixão do Caximba por mais algum tempo. A ideia dele era impedir que outras cidades da região metropolitana também depositassem lixo lá, o que prolongaria o uso do lixão por mais algum tempo claro, com a permanência dos problemas ambientais que ele causa. Sem chance: a Justiça já mandou a prefeitura fechar o Caximba para sempre, a partir de 1.º de novembro.
Tremores
Nova rodada da pesquisa Datafolha deve ser divulgada na sexta-feira apenas 23 dias antes da eleição. Crescem os rumores, temores e tremores de que, de acordo com pesquisas internas realizadas pelas coligações, o quadro deverá apresentar grande variação em relação às sondagens anteriores do mesmo instituto. A conferir.



