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Olho vivo

Cerco 1

O prefeito Luciano Ducci ainda vai se incomodar bastante por causa da gravação em que, com a própria voz, simula um telefonema enaltecendo a própria administração e que foi difundida via telemarketing. Já são duas as representaçãoes instauradas pelo Ministégio Público – uma pela Procuradoria Regional Eleitoral e outra pela Promotoria da 4.ª Zona Eleitoral. Para preocupação do prefeito, os dois procedimentos acabaram sob os cuidados de uma só promotora, Maria Lucia Figueiredo – experiente em causas de improbidade por atuar rotineiramente na Promotoria do Patrimônio Público.

Cerco 2

A promotora já iniciou as investigações que, eventualmente, podem redundar numa ação civil pública.

A primeira providência foi perguntar à prefeitura quem autorizou a despesa, quanto custou e quem pagou a campanha. As respostas servirão para calcular o ressarcimento aos cofres públicos, caso a Justiça reconheça a ilegalidade da propaganda.

Cerco 3

Jurisprudência para condenar o prefeito existe: o ex-deputado Antonio Belinati foi condenado neste ano pelo Tribunal de Justiça porque, quando era prefeito de Londrina, disparou aos assinantes de telefones da cidade gravação em que anunciava a inauguração de obras. O TJ considerou ter havido afronta ao princípio da impessoalidade e condenou Belinati a devolver ao Erário os R$ 380 mil gastos.

O presidente da Assem­­bleia, deputado Valdir Rossoni, fechou 2011 aplicando aos seus pares um teste de avaliação da sinceridade. Na quarta-feira, véspera do recesso parlamentar, Rossoni mandou suspender o pagamento do 14.º e 15.º salários – um esdrúxulo privilégio usufruído desde 1995 pelos deputados estaduais a título de "desconvocação" pelo término do ano legislativo e de "convocação" para o próximo!

Pois os mesmos parlamentares que, em público, passaram o ano elogiando as medidas moralizadoras implantadas na Casa, revoltaram-se nesta semana ao perceber que a restauração da moralidade havia atingido diretamente os seus bolsos. Suas excelências descobriram na última hora que não vão contar com a bolada extra de R$ 40 mil que faria a alegria do seu Natal.

Boa parte dos deputados não passou no teste de sinceridade, coerência e moralidade. Vários deles, embora com indisfarçável constrangimento, chegaram a reclamar publicamente do corte. Mas a maioria, na tentativa de forçar a manutenção do privilégio, optou pelo jogo político de rodapé com que estão mais acostumados.

Coisas como ameaçar com a aprovação de uma lei proibindo a reeleição da mesa executiva de modo a impedir que Rossoni tente permanecer na presidência por mais dois anos. Ou, como aconteceu na quinta-feira, sabotar a solenidade em que Rossoni e o primeiro-secretário Plauto Miró devolveram ao Executivo R$ 90 milhões economizados pela Casa durante o ano.

Desde o dia em que tomou posse, em fevereiro passado, e durante todo o ano, Rossoni foi apertando o torniquete em várias fontes de despesas inúteis, ilegais, imorais ou exageradas para conquistar a economia. Começou com a dispensa em massa de servidores fantasmas. Prosseguiu com o corte dos excedentes. Reduziu ainda salários, identificou e cortou aposentadorias irregulares... Nenhuma dessas medidas atingia diretamente os deputados e suas respectivas contas bancárias. E, então, não se ouviam protestos, apenas aplausos.

Até que, diante da revelação de que a Assembleia pagava escandalosos 15 salários aos deputados, Rossoni resolveu peitar os colegas no apagar das luzes do ano legislativo, quando todo o esperneio dos revoltados não só já seria inútil como também desmascararia os que, tendo aplaudido a moralização para os outros, passassem a defender seus próprios privilégios. Para uns, um golpe de mestre; para outros, uma lição de oportunismo.

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