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A nossa culpa no escândalo da Assembleia

Ainda é um ledo engano achar que as prisões de dez envolvidos com o escândalo dos diários secretos da Assembleia Legislativa são o desfecho do caso. Também é prematuro dizer que elas vão garantir um final sem pizza. A Operação Ectoplasma I é apenas um bom começo, um sinal de que a polícia está trabalhando.

A única conclusão de momento é que está cada vez mais difícil saber quem são os mocinhos e bandidos da história. As agricultoras Jermina e Vanilda Leal, por exemplo, levam uma vida miserável em Cerro Azul e parecem mais vítimas do que mentoras do esquema. Foram para a cadeia junto com três ex-diretores da AL, Abib Miguel, o Bibinho, José Ary Nassiff e Cláudio Marques da Silva, que visivelmente ocupam outro patamar do caso.

No casarão de três andares de Bibinho no bairro Seminário, em Curitiba, o quem mais chamou a atenção dos policiais foi uma máquina de triturar papéis. O ex-diretor-geral também perdeu temporariamente sua coleção de 73 carros, apreendidos em um terreno que pertence ao jardineiro dele.

Na casa de Marques da Silva, havia armas e munição de uso restrito das Forças Armadas, além de R$400 mil em dinheiro. As prisões de todos são temporárias (de cinco dias, prorrogáveis por mais cinco). Ou seja, eles estarão em liberdade até o 4 de maio. É o tempo que a polícia tem para trabalhar sem interferência dos envolvidos na investigação.

Esse é o único motivo das prisões. Por isso é tão importante ter em mente que eles não estão sendo punidos por antecipação. A pena judicial só virá depois, caso sejam condenados.

Também por isso ainda não há motivo para comemorar ou achar que está tudo resolvido. O fundamental hoje é refletir sobre o es­­­cândalo. Só assim será possível chegar aos verdadeiros culpados, àqueles que permitiram que simples funcionários públicos montassem um esquema milionário que durou mais de duas décadas.

Sim, essa busca passará por de­­putados e ex-deputados estaduais. Mas, além de identificá-los, é preciso ir um pouco mais embaixo. E aí está a dura e incômoda realidade: entre os culpados desse episódio está o eleitor. Em primeiro lugar, porque não se preocupa com a qualidade de quem elege, especialmente para os cargos legislativos. Quase sempre pensa de uma maneira egoísta, vota no sujeito em troca de benefício próprio – que pode ser uma dentadura ou o asfaltamento da rua em que mora.

Depois da eleição, vem o segundo pecado, tão ou mais grave que o anterior. Quase ninguém se preocupa em fiscalizar o deputado que elegeu, não sabe nem se ele comparece para trabalhar. Quatro anos depois, uma nova troca de dentadura garante que ele não troque de candidato.

Esse mesmo eleitor fica indignado quando vê no Jornal Nacional que tem gente se dando bem desviando milhões. E se sente justiçado quando eles vão para a cadeia, mas sem se envolver na história. A polícia que faça tudo sozinha.

A reflexão obrigatória sobre o escândalo dos atos secretos deve levar a um exercício de mea culpa. Os Bibinhos são só um pedaço da engrenagem montada pelos políticos. Mas o combustível dessa máquina é o voto, ou melhor, o eleitor.

É doloroso admitir isso, mas somos indiscutivelmente culpados – por escolher mal, por fiscalizar pior ainda. O lado bom é que, assim como alimentamos o monstro da corrupção, também temos o instrumento para eliminá-lo. Votar é o melhor jeito de fazer justiça para valer. E de se redimir.

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