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Como as CPIs viraram uma enganação

Um dos recordistas em participações em CPIs, o ex-deputado federal Gustavo Fruet (PDT) costumava fazer piada sobre o comportamento dos parlamentares durante o funcionamento das comissões. "Tem aqueles que se empolgam tanto com o burburinho que quando chegam em casa, abrem a geladeira e veem luz, já começam a dar entrevista", diz ele. Há pelo menos seis anos, porém, os holofotes dos inquéritos conduzidos pelo Congresso perderam força.

Ao expandir a coalizão de partidos com cargos no governo, o ex-presidente Lula descobriu um remédio para evitar dores de cabeça com CPIs. Mesmo a um alto custo, a fórmula repete-se durante a gestão Dilma Rousseff. Vale tudo para inibir a repetição de um dos maiores pesadelos petistas, a CPI dos Bingos, de 2005.

Não está lembrado do que se trata?

Aí vai um trecho do resumo do relatório final da comissão: "esta CPI iniciou seus trabalhos com foco nas denúncias de existência de um esquema de corrupção entre agentes públicos e empresários de jogos de azar e de financiamento de campanhas eleitorais com o dinheiro proveniente desse mercado de jogos". Qualquer semelhança com o noticiário político de 2012 e o caso Carlinhos Cachoeira não é mera coincidência. Até porque o bicheiro já era o pivô das primeiras investigações, após ter gravado um vídeo no qual aparecia recebendo um pedido de propina do então assessor da Casa Civil, Waldomiro Diniz, em 2004.

A novela de hoje é, contudo, uma reprise apenas parcial. Desta vez, o PT largou na frente e assumiu as rédeas da CPI mista sobre o caso que deve ser instalada nos próximos dias. Está difícil de acreditar que o calor de sete anos atrás vai se repetir durante as investigações atuais – e logo as piadas sobre o exibicionismo dos participantes vão perder a graça.

Naquela ocasião, a comissão dos bingos ficou conhecida como a CPI do "Fim do Mundo" porque abriu todos os flancos possíveis para investigar desvios cometidos por gente ligada ao governo. Entraram no mesmo balaio as suspeitas de irregularidades durante a gestão de Antônio Palocci na prefeitura de Ribeirão Preto (SP), a suposta de remessa de dólares de Cuba para a campanha de Lula e até o assassinato do ex-prefeito de Santo André (SP) Celso Daniel. Pelo andar da carruagem, a reedição do caso Cachoeira tem o mesmo potencial bombástico, com o detalhe de que mexe também com os três principais partidos de oposição – DEM, PSDB e PPS.

É aí que entra outro remedinho para deixar tudo como está. No segundo mandato de Lula, uma das raras CPIs que chegou a dar pinta de que daria certo era a que se propôs a investigar gastos com cartões corporativos do governo. A comissão travou a partir do momento em que os aliados do ex-presidente começaram a exigir que as investigações também se estendessem à gestão Fernando Henrique Cardoso.

Com uma dose de fisiologismo na mão esquerda e outra de corporativismo na direita, PT e PMDB dispõem do que precisam para controlar o rumo da nova CPI, que dá pinta de que será tudo, menos um instrumento para elucidação do caso. A propósito, o relatório da comissão do "Fim do Mundo", apresentado em junho de 2006, apontava que Cachoeira tinha cometido pelo menos quatro crimes (formação de quadrilha, corrupção passiva, crime contra o procedimento licitatório e improbidade administrativa).

Ainda assim, continuou tendo contato com congressistas. E só acabou preso quase seis anos depois.

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