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Dilma é mais Dilma que Palocci

Enquanto colegas do primeiro escalão de Lula, Antonio Palocci e Dilma Rousseff nunca tocaram na mesma banda. Ele era visto como muito ortodoxo no comando da economia (para não dizer tucano). Ela encampava o discurso da esquerda desenvolvimentista, do Estado mais atuante como indutor do crescimento.

O então ministro da Fazenda tombou em março de 2006, abalroado pelo caseiro de uma tal república no Lago Sul de Brasília. Dilma prosperou, primeiro como ministra de Minas e Ener­gia, depois no comando da Casa Civil. Como "mãe" do Pro­grama de Aceleração do Crescimento (PAC), tornou-se maestrina do governo e foi ungida sucessora de Lula.

As diferenças entre a dupla não eram exatamente um problema. Mas também não ajudaram a criar um clima de afinidade. O ambiente que se conhece hoje é fruto de uma reaproximação que ocorreu ao longo da campanha presidencial do ano passado.

Palocci é reconhecido entre a oposição e a iniciativa privada como um político jeitoso, bom de diálogo. Já Dilma, bem, não é lá muito famosa pelo jogo de cintura. Nas eleições, quando muito se falava sobre uma proposta mais à esquerda de Lula, ele foi fundamental para puxar o discurso rumo ao centro.

A estratégia deu tão certo que Palocci foi escolhido para a Casa Civil justamente para complementar o estilo "duro-na-queda" da presidente. No começo, até havia a expectativa de que o ministro atuasse como a "Dilma da Dilma", alguém que coordenasse as ações internas do governo. Nunca foi assim.

Palocci ficou responsável pela política da porta para fora do Palácio do Planalto. Ela manteve as chaves de dentro. Como raramente fizeram os antecessores, Dilma quer fazer o país andar colocando a mão na massa e por isso terceirizou a articulação política.

Está errada? Como candidata, ela nunca escondeu o que tinha a oferecer. A sensação, no entanto, era de que o legado político de Lula permaneceria onipresente, que cada aliado do governo permaneceria no seu quadrado.

Claro que as coisas não funcionaram bem assim. Primeiro, vieram os previsíveis desentendimentos com o PMDB. E na crise provocada pelas suspeitas sobre a evolução patrimonial de Palocci, surgiram as fissuras dentro do próprio PT.

Era esperado que a cúpula do partido chamasse a responsabilidade de defender o ministro. Preferiu cruzar os braços. Dei­xou a bomba no colo de quem a montou.

Na semana passada, Dilma fez o mesmo. Em um enigmático discurso no lançamento do programa Brasil Sem Miséria, afirmou que "ninguém pode se dar ao luxo de ser refém do medo e da timidez". Em outras palavras, demonstrou que não se negará a tomar medidas duras.

Até porque os vínculos entre a presidente e o ministro, como descritos aqui, não são lá os mais consistentes. Ambos cruzaram-se pela história. O que não quer dizer que fizeram história juntos.

Enganam-se os que pensam que a presidente vai proteger para sempre o subordinado, que uma entrevista ao Jornal Nacional será suficiente para limpar a barra do ministro. A crise é, em princípio, um drama pessoal de Palocci – e não um escândalo do governo, como foi o mensalão, em 2005. Por isso, não faz sentido a presidente internalizar o problema.

Se a crise entrar de vez pela porta do Planalto, lá se vai o diferencial de Dilma.

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