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É você quem vai pagar o metrô

Na quinta-feira, a presidente Dilma Rousseff desembarca em Curi­tiba para anunciar o acordo definitivo entre os governos federal, estadual e municipal para a construção do metrô de Curitiba. Será um fato marcante para a história paranaense.

Por isso mesmo, é melhor ana­­lisá-lo com menos emoção e mais racionalidade.

Em primeiro lugar, é preciso admitir algo inegável: a obra fo­­menta uma estranha paixonite na cidade. Ao mesmo tempo em que o curitibano médio é doente por carro, costuma falar de boca cheia aos forasteiros sobre o re­­volucionário sistema de transporte da sua terra. Todo mundo adora uma conversa sobre as estações-tubo futuristas, as vias exclusivas ou os maiores ônibus do mundo.

Claro que esse mesmo sujeito prefere abarrotar o trânsito com um veículo parcelado em 70 me­­ses do que enfrentar diariamente um biarticulado, mas... Metrô é metrô. Tem em Buenos Aires, Nova York e Paris – ou seja, soa chique.

Pouca gente parou para prestar atenção sobre os benefícios reais da obra. O projeto inicial prevê uma linha de 14,2 quilômetros e apenas 13 estações, en­­tre a CIC e a Rua das Flores. Ha­­ve­­rá integração com o resto do sistema de ônibus, mas esqueça a possibilidade de fazer baldeações internas para chegar a diferentes bairros da cidade.

Esses fatos não são necessariamente uma ducha de água fria sobre a proposta. Há inúmeros outros aspectos positivos no empreendimento. Uma obra des­­se porte turbina a economia local e muda o perfil de várias áreas da cidade.

Além disso, Curitiba precisa buscar soluções para os desafios do seu crescimento. Depois de quatro décadas, o sistema de transporte deve ser oxigenado. O em­­penho da prefeitura pelo metrô mostra que os planejadores municipais não estão de braços cruzados.

Enfim, a decisão está tomada. E como em qualquer decisão pública histórica, há prós e contras – é só ver o caso da atra­­ção das montadoras internacionais para São José dos Pinhais, há 15 anos. Muito pior do que os efeitos colaterais é o risco da estagnação.

Cumprida a etapa de tirar o coração da discussão, também é necessário lidar com o fígado. Há muita política envolvida no me­­trô. Lá se foram três anos de em­­bates sobre quem vai pagar a con­­ta, até que os três entes da fe­­deração enfim acertaram um rateio.

Dos R$ 2,25 bilhões, a União vai bancar sozinha R$ 1 bilhão. Além disso, vai emprestar R$ 300 milhões para o governo do estado e R$ 450 milhões para o município, por meio do Banco Nacio­nal de Desenvolvimento Econô­mico e Social. Outros R$ 500 mi­­lhões viriam de uma parceria pú­­blico-privada.

Todos os lados estão tentando vender uma imagem de desprendimento. Nunca será suficiente martelar que o dinheiro para tirar o projeto do papel não caiu do céu nem foi obra de mecenato de Dilma Rousseff, do governador Beto Richa ou do prefeito Luciano Ducci. Quem vai desembolsar os bilhões será você, contribuinte.

Está certo, 45% das despesas vão ficar a cargo do governo fe­­deral. Os demais 33% que saem do BNDES, contudo, não serão dados, mas emprestados. E com juros de 5,5% ao ano mais Taxa Referencial (TR), bem superior aos 3,5% que o governo paga pelo FGTS.

Da próxima quinta-feira até junho de 2016 (data prevista para o término da obra), é importante que fique claro que o metrô não é um presente de quem quer que seja. É fruto de um esforço dos curitibanos como um todo. Portanto, não deixe de fiscalizar cada centavo – até porque é um dinheiro que saiu da sua carteira.

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