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Mais uma mãe para o PAC

As mudanças que devem desembocar na aguardada reforma ministerial de janeiro serão mais substanciais do que um simples rodízio entre partidos. A presidente Dilma Rousseff vai manobrar para evitar uma nova sucessão de escândalos e, principalmente, tentar fortalecer a área econômica para conter o alastramento da crise. Nessa estratégia, o casal paranaense Gleisi Hoffmann e Paulo Bernardo está no olho do furacão.

Lá se vai quase um semestre desde que a senadora chegou à Casa Civil. A princípio, a intenção de Dilma ao escolhê-la para substituir Antonio Palocci era mudar o perfil da pasta. Em essência, retomar o caráter técnico e de gerenciamento dos demais ministérios, marca registrada da própria presidente durante a era Lula.

Gleisi seguiu as determinações à risca. Não aparece dando pitacos em assuntos políticos e cumpre uma agenda de até oito reuniões diárias no Palácio do Planalto. A discrição acalmou o ambiente – outros cinco ministros caíram por denúncias de corrupção, mas nenhum deles frequentava o ambiente mais próximo à presidente.

O período serviu como uma espécie de estágio probatório. Em 2012, a Casa Civil deve absorver pelo menos um pedaço do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), hoje coordenado integralmente pela ministra do Planejamento, Miriam Belchior. Dilma quer recuperar a visibilidade das obras de infraestrutura e usar os investimentos públicos como ferramenta de combate às turbulências financeiras internacionais.

Não, Gleisi não será "a" mãe do PAC (como a presidente foi com Lula), mas "uma" das mães, junto com Miriam e a própria Dilma. Dentro do governo, o diagnóstico é que o programa perdeu representatividade em 2011 e é grande demais para ficar concentrado só no Pla­nejamento. Ainda não se sabe como seria feita a partilha.

Na medida em que a esposa ganha mais tarefas, Paulo Ber­nardo tende a mudar de posto. As costuras para que ele deixe o Ministério das Comunicações e assuma a usina de Itaipu, no lugar de Jorge Samek, que deve concorrer à prefeitura de Foz do Iguaçu, estão adiantadas. Ele mesmo já admitiu a possibilidade há duas semanas.

Mas por que Paulo Bernardo trocaria a Esplanada pelas cataratas? Talvez Brasília seja pequena demais para um casal de ministros. Os dois não saem da mira do fogo inimigo, do amigo e, por consequência, da imprensa.

É só notar que, desde que ela chegou à Casa Civil, ele reduziu significativamente o volume de declarações aos jornalistas e a participação nas redes sociais. Ambos também diminuíram as visitas ao Paraná para evitar envolvimento em denúncias de campanha extemporânea. Aliás, pelo andar da carruagem, nem se sabe mais se Gleisi vai ser candidata a governadora em 2014 – sim, Dilma pode não "liberá-la", como Lula fez com Paulo Ber­nardo no ano passado.

No fim das contas, a reforma não vai enfraquecer a dupla, mas vai gerar uma nova ordem no primeiro escalão. Há tempos comenta-se que o verdadeiro governo Dilma só vai começar em 2012, após uma transição para eliminar parte da herança deixada por Lula. É uma meia verdade.

O próprio ex-presidente estaria orientando parte das mudanças – teria partido dele a ideia de compartilhar o PAC. Vale lembrar que o próprio Lula definiu-se como uma metamorfose ambulante. Essa capacidade de se reinventar, em especial após o mensalão, salvou seus oito anos de gestão.

Agora é a vez do governo Dilma mudar de cara. Pelo jeito, ela escolheu Gleisi como modelo.

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