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Marina ensinou. Dilma e Serra não aprenderam

Sabe quando os jogadores falam que o futebol é uma caixinha de surpresas, que o jogo só termina quando acaba e que não existe mais time bobo? No fundo, querem justificar que faltou preparo para enfrentar o adversário ou mascarar as próprias deficiências. Mas os chavões que machucam os ouvidos não são restritos aos boleiros – os políticos também adoram um lero-lero.

Eis que a eleição presidencial não acabou no dia 3 de outubro. Os petistas, que davam a vitória antecipada como favas contadas, agora dizem que o prolongamento da campanha é bom para debater mais propostas para o Brasil. E os tucanos repetem exaustivamente que o segundo turno é uma nova eleição.

Uma ova. Era óbvio que o melhor negócio para a turma de Lula era fechar a fatura o mais cedo possível. Quanto mais longo o caminho para Dilma Rousseff (PT), mais chance ela tem de tropeçar na própria inexperiência eleitoral.

O papo dos aliados de José Serra (PSDB) também é ruim de engolir. A verdade é que ele recomeça a disputa em uma situação desconfortável, com 14,5 milhões de votos a menos que a rival. E que nunca na história deste país um candidato que acabou o primeiro turno na dianteira deixou escapar a eleição no segundo.

Fica a expectativa sobre como vão se comportar os 19,6 milhões de eleitores de Marina Silva (PV). Uma coisa é certa, nem se ela decidir apoiar um candidato esse espólio irá integralmente para o escolhido. Com base no comparecimento ao pleito de domingo passado, Dilma precisaria de mais cerca de 3,5 milhões de votos para chegar à maioria.

É só fazer as contas: se dois a cada dez "marineiros" votarem na petista, a fatura está encerrada. Então a chave para o triunfo de Dilma é, basicamente, manter os votos que já recebeu. O que também não significa que está tudo resolvido.

Pode ser raro, mas o eleitor muda sim de lado. Para isso, precisa ser submetido a um grande trauma. Ou seja, será preciso aparecer novas Erenices nos próximos dias – ou pior, algum fator que provoque um rechaço pessoal muito devastador a Dilma.

Por isso o PSDB se abraça com força na questão do aborto. Apega-se à onda ético-religiosa que começou na internet e que supostamente provocou uma sangria de votos de última hora em Dilma. Agora, como diz o jingle, "o Serra é do bem".

Para rebater, Dilma criou a "corrente do bem", na qual contesta os ataques que vem recebendo na internet. Como se vê, a guerra é para ver quem é mais bonzinho. Na verdade, eles querem se parecer mais com Marina.

Só que ela era boa justamente porque não precisava dizer isso com todas as letras para o eleitor, estava na cara. Era boa porque mostrou que o plebiscito PT x PSDB é uma furada e que o lado mais perverso das eleições é a infantilização do povo – principalmente com a história de que o Brasil precisa de um pai ou mãe como presidente. Agora, no entanto, a disputa voltou a cair no maniqueísmo de mocinho e bandido, céu e inferno.

Vai dar certo para algum dos lados? Difícil dizer. O fato é que a campanha ficou ainda mais rasteira. E que Marina até ensinou o caminho das pedras para seus cobiçados 19,6% de eleitores. Mas Dilma e Serra não aprenderam.

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