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O silêncio ensurdecedor da Assembleia

A omissão da maioria esmagadora dos deputados estaduais no escândalo dos Diários Secretos revelado pela Gazeta do Povo e RPC TV parece conveniente, mas custa caro até para eles próprios. O mesmo silêncio que impede a separação entre os que desejam mudanças e os que têm muito a temer, alija quase todos de poder na definição do quadro eleitoral paranaense. O desafio está lançado: qual candidato a governador terá coragem de buscar um vice na Assembleia Legislativa?Da Casa saíram quatro dos últimos cinco vice-governadores – João Elysio Ferraz de Campos, Mário Pereira, Emilia Belinati e Orlando Pessuti. Desde a redemocratização, em 1982, apenas Ary Veloso Queiroz (vice de Alvaro Dias entre 1986 e 1990) não fez carreira parlamentar. Entre os quatro governadores do período, Alvaro e Roberto Requião também foram deputados estaduais.

O prestígio da Assembleia valeu muito até as últimas eleições, em 2006, quando Requião queria o então presidente da Casa, Hermas Brandão, como vice. A chapa só não saiu devido a uma intervenção da executiva nacional do PSDB. O apoio de Hermas e dos deputados tucanos de "bico vermelho" a favor Requião, contudo, foi fundamental para a vitória peemedebista.

Na mesma linha, o passado re­­­cente não é confortável nem para dois dos principais pré-candidatos ao Palácio Iguaçu. Tanto Orlando Pessuti (PMDB) quanto Beto Richa (PSDB) foram deputados estaduais e têm evitado se envolver ou comentar a crise. Ambos não aparecem nas investigações do Ministério Público, mas vale lembrar que muito dos fantasmas e gafanhotos que desabrocham diariamente já existiam na época em que os dois eram parlamentares.

Outro pré-candidato ao Palácio Iguaçu, Osmar Dias (PDT) também fugiu das críticas à Assembleia até a semana passada, quando passou a defender o afastamento de todos os membros da mesa diretora. Entre eles está o presidente estadual do PDT, Augustinho Zucchi, que é segundo-vice-presidente da Casa. Zucchi é cotado para ser vice de Beto, caso prosperem as negociações entre tucanos e pedetistas.

Outro deputado que passou meses sendo apontado para a mesma vaga é o primeiro-secretário, Alexandre Curi (PMDB). As citações começaram a rarear logo no começo do escândalo, até que desapareceram quando o Ministério Público denunciou Curi por improbidade administrativa, na semana passada. As relações do primeiro-secretário com o caso chegam a ser genealógicas – os fantasmas teriam começado a reprodução em massa quando o avô dele, Aníbal Khury, presidiu a Assembleia.

Ao apostarem na omissão, os deputados tentam na verdade dar tempo ao tempo. É como se eles apostassem que as denúncias de irregularidades vão parar por conta própria. Jogam na base da suposta memória curta do eleitor.

A questão é que a cada dia surgem mais e mais revelações. Do pa­­­gamento de salários a fantasmas que realmente estavam mortos à contratação de gasparzinhos com 13 anos de idade. É um poço sem fundo de escabrosidades, que deixam a sociedade paranaense indignada, mas ainda insuficientes para alterar o status quo da Assembleia.

E se eles insistirem com a tática da boca fechada, também vão faltar palavras para a campanha eleitoral. Será um assunto e tanto para ser discutido nas convenções partidárias, que começam na próxima quinta-feira. É a hora de ver quem aceita usar, para valer, a luta contra a corrupção como bandeira de campanha.

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