Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Conexão Brasília

Políticos: podemos viver sem eles?

A atual crise econômica mundial é uma batata quente que passou dos banqueiros para os políticos e agora arde nas mãos das pessoas comuns pelo mundo afora. Para os brasileiros, ela ainda parece uma marolinha lá do outro lado do Atlântico (coisa de loiro com o olho azul, como diria Lula), mas se a China entrar na dança a situação vai ficar feia. Por isso é bom prestar atenção em alguns fenômenos em andamento na Europa que podem desaguar por aqui em breve.

O mais interessante é a substituição de políticos tradicionais por técnicos nos principais postos de governo da Grécia e da Itália, países que estão no epicentro do problema. "Não sou político" foram as primeiras palavras do economista Lucas Papademos ao assumir o cargo de primeiro-ministro grego. Na Itália, o também economista Mario Monti chegou ao poder com 80% de aprovação popular sem ter disputado sequer uma eleição na vida.

"Super Mario" acumulou a função de ministro das Finanças, enxotou todos os políticos do primeiro escalão e adotou um discurso sóbrio, sem firulas ou promessas de uma recuperação milagrosa. Mais do que a qualificação, seu principal diferencial é ser o oposto do antecessor Silvio Berlusconi. Os italianos estão fartos de politicagem, bunga-bunga e, principalmente, apavorados com a recessão.

Só os italianos?

Em junho deste ano, a empresa alemã GFK divulgou uma pesquisa feita em 19 países que mediu o índice de confiança da população a respeito de 20 categorias profissionais. Os políticos ficaram em último lugar, com uma média global de 17%. No Brasil, foram ouvidas cerca de mil pessoas e 19% disseram confiar nos políticos – em primeiro lugar ficaram os bombeiros, com 97%.

O estudo ajuda a comprovar que os políticos têm uma reputação mais ou menos parecida por todos os cantos. Portanto, é natural que eles sirvam como bodes expiatórios para as crises. Ainda assim, há algo de diferente em curso neste momento: o esgotamento da política partidária tradicional.

Os espanhóis acabam de eleger uma legenda de direita para punir outra de esquerda. Na Dinamarca, ocorreu o movimento contrário. No fundo, as duas vias parecem sem rumo, à procura de um muro de Berlim para tornar as coisas mais fáceis.

No Brasil, a crise (ainda) não é financeira, mas também há sinais claros de esgotamento do atual sistema partidário. É só lembrar que no ano passado um dos políticos mais habilidosos da história do país conseguiu fazer de uma tecnocrata sem grande carisma sua sucessora. O feito, por outro lado, gerou uma dívida salgada com 80% da representação partidária no Congresso Nacional.

A necessidade de se aliar ao maior número de siglas possível para manter a governabilidade é o que tem mais prejudicado o trabalho de Dilma Rousseff. Cinco ministros políticos já tombaram por denúncias de corrupção, mas nada disso gruda na imagem da presidente. O teflon da presidente é justamente seu perfil técnico.

Dilma, que já foi definida como um poste pela oposição, mantém a popularidade em alta porque, no ideário popular, não se enquadra na fatia dos 81% que não são confiáveis. A dúvida é saber se ela consegue permanecer fora desse grupo por muito tempo. E dar o passo adiante de escapar das armadilhas políticas para tornar a administração pública mais eficiente.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.