Beto Richa foi reeleito prefeito de Curitiba em 2008 sem precisar se desgastar com os adversários, numa campanha em que a propaganda mais parecia um pedido da população para votar nele do que o contrário (lembra-se do Fica Beto?). Tudo correu conforme o programado, e o tucano atingiu um recorde de 77,27% dos votos válidos ainda no primeiro turno. Em 2014, o hoje governador vai disputar novamente uma reeleição, mas parece ter escolhido uma estratégia bem diferente.
Beto agora também bate. Se há cinco anos ele era apenas o bom moço que se dava bem até com Lula, atualmente a gestão petista é alvo de pedradas. Entre outros ataques, Beto tem chamado o governo federal de "agiota" pelos juros cobrados nas dívidas dos estados e "centralizador" pela concentração de recursos públicos e, em especial, pela decisão de retirar autonomia estadual sobre os portos concedidos, como o de Paranaguá.
Há outros focos, como o histórico de baixos investimentos da União no Paraná, principalmente na comparação com Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Em linhas gerais, o governador deixou de ser reativo para tentar tomar a dianteira do embate político. E o cenário que ele deseja montar até o ano que vem é de um Atletiba entre os palácios do Planalto e Iguaçu.
A semelhança entre 2008 e 2014 está na adversária Gleisi Hoffmann (PT). Da primeira vez, ela ainda era uma novata na política paranaense, cuja única experiência eleitoral anterior havia sido uma complicada disputa por uma vaga para o Senado com Alvaro Dias (PSDB). Hoje a petista ocupa a coordenação do governo Dilma Rousseff, como ministra chefe da Casa Civil.
Não bastasse o tamanho da função desempenhada por Gleisi, há a avaliação da gestão Dilma. Na semana passada, a presidente apareceu na liderança absoluta da corrida eleitoral de 2014, com 58% das intenções de voto, segundo o Datafolha, além de ter batido um novo recorde de aprovação popular. O índice de brasileiros que consideram o governo "ótimo" ou "bom" chegou a 63%, enquanto a aprovação pessoal da presidente chegou a 79%, de acordo com o Ibope.
Em um recorte com apenas os três estados do Sul, os índices não sofrem grandes alterações ficam em 60% e 77%, respectivamente. Esses números falam por si: em menos de meia década, Gleisi deixou de ser uma rival praticamente inofensiva para impor respeito. Se Dilma mantiver a trajetória ascendente, vai ser fácil vender a imagem da ministra como seu braço direito igualzinho o que Lula fez com a própria Dilma em 2010.
Ainda assim, será complicado embarcar em um confronto nos termos escolhidos por Beto. Os argumentos sobre a concentração de recursos em Brasília, por exemplo, fazem sentido e estão no eixo das discussões sobre o pacto federativo, a pauta do momento no Congresso Nacional. Além disso, dados orçamentários de 2013 mostram que o governo federal planeja investir (sem contar as empresas estatais) R$ 1,6 bilhão no Paraná contra R$ 2 bilhões de Santa Catarina e R$ 2,6 bilhões do Rio Grande do Sul.
Se levado apenas para o lado técnico, o embate dará um tom inovador à campanha estadual. Desde a redemocratização, as campanhas estaduais se resumiram ao duelo de imagens pessoais entre medalhões da política local, como Jaime Lerner, Roberto Requião, a família Richa e os irmãos Dias. Discutir o papel do Paraná na federação é, no fundo, bem mais interessante.
*O colunista entra em férias e retorna em maio.



