A relação entre PT e PMDB parece um daqueles casamentos arranjados em que o único interesse é o dote da noiva. Depois, com a união consumada, o dinheiro escoa pelo ralo e vem a realidade. Marido e mulher comprovam que um não tem nada a ver com o outro e tornam suas vidas e de quem está à sua volta um inferno.
A diferença é que petistas e peemedebistas comandam o governo brasileiro. E quem está ao redor, apanhando por tabela, somos todos nós. Como a dobradinha Dilma Rousseff e Michel Temer foi aprovada nas urnas pela maioria, ambos os lados teriam obrigação de encontrar um jeito de viver em harmonia.
O duro é que isso é praticamente impossível. Há algo incompatível no DNA dos dois partidos. O MDB velho de guerra que brigou com a Arena na ditadura até sonhou com a possibilidade de encabeçar uma grande coalizão de centro-esquerda no começo dos anos 1980. Foi surpreendido por um partido de trabalhadores com ideais socialistas, irredutível em relação às alianças com políticos tradicionais.
Depois o PMDB até chegou ao poder central com José Sarney, mas inchou tanto que acabou virando uma confederação de caciques regionais. O PT também cresceu, virou pragmático e esqueceu a "ingenuidade" dos velhos tempos. Agora aceita ser parceiro de todo mundo para manter-se no poder, incluindo gente de direita como o PP, herdeiro legítimo da Arena.
Ideologia e trajetórias à parte, hoje a grande diferença entre os dois partidos é que os petistas são muito mais organizados. Eles planejam e se esforçam para cumprir as metas, além de respeitarem a hierarquia. Já os peemedebistas são uma colcha de retalhos há um PMDB de Michel Temer, outro de José Sarney, mais um de Roberto Requião e por aí vai indefinidamente pelo Brasil afora.
Essas fragmentações tornam complexo um acordo com o PMDB como um todo. Até se a legenda comandasse o Palácio do Planalto sozinha, com uma chapa pura, não conseguiria viver em paz. Por isso a crise instalada neste começo de ano pode até acabar em breve, mas a única certeza é de que ela será seguida por outras.
Na quarta-feira passada, por exemplo, quando o Senado derrotou o governo ao derrubar a recondução de Bernardo Figueiredo para a direção-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), havia vários interesses difusos em questão. Teve peemedebista que queria protestar contra o corte de emendas parlamentares, outros que queriam afrontar a direção do partido e aqueles convencidos por Requião, que montou uma cruzada pessoal contra Figueiredo.
Dias antes, cerca de 50 deputados federais do partido assinaram um manifesto criticando a relação com o PT, num movimento que contou com o estranho apoio de Michel Temer. Ou seja, os petistas estão cercados de instabilidade por todos os lados do Congresso.
Com a proximidade das eleições e ainda mais interesses em jogo, nada indica que isso vai melhorar.
A verdade é que, desde o princípio, a coligação com o PMDB sempre foi uma estratégia arriscada para o PT.
O bônus foi uma vitória incontestável em 2010 e o esmagamento de DEM e PSDB. O ônus é viver quatro anos sob tensão absoluta.



