Que Lula iria transferir votos, que a economia jogaria a favor e que a oposição bateria cabeça até o governista mais pessimista tinha certeza que aconteceria. Um temor, no entanto, permaneceu até o começo de agosto. Ninguém colocava a mão no fogo pelo desempenho "ao vivo" de Dilma Rousseff.
Para os tucanos, a disputa ficaria equilibrada a partir do confronto direto entre a candidata e José Serra. Ledo engano. Nas oportunidades em que ficaram frente a frente, ela não foi tão mal; muito menos o adversário, tão brilhante.
Mesmo sem nunca ter disputado uma eleição antes, Dilma virou-se razoavelmente bem em sabatinas, entrevistas e nos debates realizados até agora. Absorveu as já esperadas pancadas e, quando necessário, partiu para a ofensiva. Atuou dentro do script, bem vestida, com penteado em dia, sorriso aberto, tom de voz ameno.
Tirou nota 7. Na média vale como um empate técnico com o rodado Serra, que concorre a cargos públicos desde os anos 80. Dá para passar de ano? Para a direção da campanha petista, não.
No dia 23 de agosto, o Datafolha* apontou pela primeira vez a possibilidade de vitória no primeiro turno a petista aparecia com 54% das intenções, levando-se em conta apenas os votos válidos. À medida que disparou nas pesquisas, foi desaparecendo dos eventos públicos em que pudesse ser questionada pela imprensa. Encastelou-se em uma espécie de bunker montado em Brasília.
Uma vez por dia sai da toca por cerca de 20 minutos para dar declarações a jornalistas sobre temas que a própria assessoria define. No 7 de Setembro, ainda sob o calor do escândalo da quebra de sigilos fiscais de pessoas ligadas ao PSDB, falou sobre o significado do Dia da Independência. Tudo para não perder os segundos oferecidos pelo Jornal Nacional na cobertura diária da agenda dos presidenciáveis.
Na semana passada, Dilma não foi ao debate promovido pela TV Gazeta/Estadão, que contou com Serra, Marina Silva (PV) e Plínio de Arruda Sampaio (PSol). Entre Serra e Marina, também foi a única que não participou da sabatina do jornal O Globo, nem topou dar entrevista pessoalmente à revista Rolling Stone. Mandou as respostas por e-mail e perdeu a chance de mostrar o seu lado descolado se é que ela tem um.
É injusto dizer que o esconde-esconde é algo novo, criado apenas para proteger Dilma. Em 2006, Lula não compareceu a nenhum debate no primeiro turno, mas também pagou caro pela opção. A ausência no debate feito pela Rede Globo, às vésperas da eleição, pesou para que a disputa fosse ao segundo turno.
Em 1994, Fernando Henrique Cardoso (PSDB) aceitou participar de apenas um debate televisivo. Na reeleição, teve o despeito de faltar a todos. Em ambas as ocasiões, venceu no primeiro turno.
Dilma procura acalmar os exaltados e, em princípio, não deve faltar aos dois principais debates televisivos que faltam, na Record e Globo. Parece muito, mas não é. A blindagem da petista é nociva porque só reforça a dependência dela em relação a Lula e a imagem de que a cancidata não anda pelas próprias pernas.
Além disso, Dilma é inegavelmente a mais desconhecida em comparação com Marina e Serra. Seria bom se esforçar um pouco para se mostrar às pessoas. Afinal de contas, a exibição das maravilhosas imagens do horário eleitoral gratuito do PT acaba em duas semanas.
E não é esse mundo encantado que ela terá de administrar por quatro anos.
* Pesquisa realizada no dia 20 de agosto com 2.727 entrevistas e margem de erro de dois pontos porcentuais. Registro no TSE: 24.460/2010.



