Os doutores que zelam pela doutrina da fé econômica do governo fazem inveja aos bons tempos do cardeal Ratzinger. Em 2000, o Banco Central armou um concurso para 300 analistas e, na prova de títulos, desqualificou a Unicamp, considerada um ninho de pensamento crítico da ekipekonômica tucana. Felizmente a armação foi desfeita. Agora, o comissariado do Ipea foi por um caminho parecido e piorado. Abriu um concurso para 62 vagas de técnico de planejamento (R$ 11 mil mensais) e submeteu os candidatos a uma prova que ofendeu o idioma, banalizou a qualificação dos candidatos e beneficiou conhecimentos de almanaque.
Exemplificando, primeiro pela agressão ao idioma, numa pérola pinçada por Madame Natasha: "Considerando aspectos da configuração das redes urbanas regionais no Brasil e do imbricamento dessa morfologia com a economia produtivista nacional, julgue os itens que se seguem (...)."
A prova agrediu a complexidade do pensamento do sociólogo Francisco de Oliveira ao atribuir-lhe a afirmação de "não haver capitalismo monopolista sem o Estado". Tudo bem, mas Dadá Maravilha poderia ter dito a mesma coisa. (Nunca é demais lembrar que em 2003 Nosso Guia mandou tirar um texto de Oliveira de um livro publicado pelo Instituto da Cidadania.)
Uma questão mostra a opção por conhecimentos inúteis: "Uma política de conservação dos cavalos-marinhos deve ser voltada para o Gerenciamento Costeiro e Marinho e a Fiscalização Contra o Comércio Ilegal, dispensando uma articulação com a Política Nacional de Recursos Hídricos e as práticas agrícolas no Continente." Certo ou errado?
Esse concurso atraiu 8 mil jovens que estudaram a sério e querem servir ao Estado. Não deveriam ser testados por examinadores rudimentares, até mesmo desleixados. Acusar os comissários de terem produzido um teste de conhecimento esquerdista é elogio impossível. A prova é apenas burra. Durante a ditadura, foi o rigor acadêmico do Ipea, associado a uma certa tolerância com o pensamento dissidente, que preservou o acervo intelectual de uma geração de economistas como Pedro Malan.
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A Petrobras poderá aliviar a crise coreana
A Petrobras atendeu ao apelo de Nosso Guia para estimular a economia. Na Coréia. No primeiro semestre, a empresa resolveu contratar doze unidades de perfuração. Anunciou seu interesse ao mundo, apareceram cerca de 15 interessados e a indústria brasileira arrematou dez das doze empreitadas. Um negócio de US$ 18 bilhões ao longo de mais de dez anos.
Agora, o comissariado da empresa quer contratar uma unidade de perfuração para águas profundas em área internacional. Há uma certa corrida contra o tempo para fazer o negócio com a empresa Vantage, que está construindo um equipamento na Coréia. A companhia é uma sociedade de norte-americanos, taiwaneses e noruegueses.
Trata-se de um contrato que pode chegar a US$ 1 bilhão em cinco anos.
Como a unidade será usada fora do Brasil (talvez na Líbia, Turquia ou Angola), a Petrobras não está obrigada a cumprir as exigências da legislação brasileira. A contratação poderá ser justificada pela pressa que a Petrobras tem de receber a unidade. Não deixa de ser esquisito que ela conduza o negócio sem uma comunicação formal e pública ao mercado.
Bastaria anunciar à praça o interesse pelo equipamento. Se de fato não houvesse no mundo um fornecedor capaz de concordar com o preço e o prazo, a escolha seria natural como o nascer do sol.



