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Numa manhã de março deste ano o telefone do gabinete da Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro tocou 200 vezes seguidas. Todas as pessoas que ligaram pediam a mesma coisa – a criação de uma delegacia especializada em localização de pessoas desaparecidas. No mês seguinte, a Polícia Civil fez uma reunião com os manifestantes responsáveis pelas ligações, comprometendo-se a tirar do papel o projeto que vinha sendo negociado com a comunidade desde outubro de 2013. Em setembro deste ano, a delegacia especializada foi instalada no Rio de Janeiro.

A reivindicação de uma delegacia especializada começou por iniciativa de Jovita Belfort, mãe do lutador de MMA Vitor Belfort. Ela usou o aplicativo chamado "Panela de Pressão", desenvolvido pela organização não governamental Meu Rio. O Panela de Pressão é um dos dispositivos criados pela ONG, que possibilita o contato direto com gestores públicos e parlamentares, seja por e-mail, Twitter, Facebook ou telefone. "A ligação telefônica é o último recurso. Nós sabemos o quanto é inconveniente receber ligações em massa", afirma o diretor-presidente da Meu Rio, Miguel Lago. "Para situações pontuais, o Panela de Pressão é uma ferramenta mais eficiente que as petições eletrônicas", defende.

Antes das duzentas ligações, a Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro tinha recebido 15 mil mensagens eletrônicas pedindo a criação da delegacia. Os manifestantes fizeram também duas reuniões com autoridades da Secretaria de Segurança para discutir a reivindicação.

Em maio deste ano, a Meu Rio ganhou o Prêmio Desafio de Impacto Social, promovido pelo Google, e está estruturando a rede Nossas Cidades. A ideia da ONG é replicar o modelo de mobilização e compartilhamento de ideias que implementaram no Rio em outros municípios. "Nesse momento, estamos lançando uma página de internet (fundadores.nossascidades.org/) para que qualquer pessoa possa se inscrever para se tornar o fundador da rede de mobilização em sua cidade", afirma Miguel Lago. Aqueles que se inscreverem vão participar de um processo de seleção para receber um treinamento de um mês, para depois replicar o mesmo modelo na cidade deles.

Mobilizar a sociedade não é fácil. Mas a experiência da Meu Rio mostra que é possível os cidadãos influenciarem processos decisórios do poder público. E note: sem uso de violência. Se os curitibanos tivessem mecanismos semelhantes, será que conseguiriam impedir a criação de uma previdência complementar ilegal, como querem os deputados estaduais? Por quanto tempo a panela de pressão precisaria ficar no fogo? Essa é uma interessante questão em aberto que a sociedade ainda verá respondida.

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