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Esses tempos de pré-carnaval mostram como a sociedade paranaense se transformou ao longo da última década. Em protestos ou celebrações festivas a céu aberto, as pessoas foram para as ruas. Valores e propósito pessoal ocuparam posição dominante no debate público, a ponto de um turbante criar toda a sorte de teorias confusas. Internautas vociferam uns com os outros, sem refletir ou estudar assuntos a sério.

A cultura está mudando mais rápido que em quaisquer outros tempos. É mais aberta, mas também mais propensa ao conflito. É como se a Lei dos Retornos Acelerados de Ray Kurzweil (onde a tecnologia da informação é adotada, a eficiência do setor dobra a cada ano e meio), comandasse também, de um lado, o desenvolvimento das ciências, da filosofia e das artes. E, de outro, ditasse a propagação exponencial de boatos, de radicalismos, de intolerância.

Nessa intrincada rede formada por tecnologia e sociedade, os indivíduos mudaram sua forma de se relacionar, de defender seus interesses e de se desenvolverem como cidadãos. Há dez anos praticamente não existia hacker ativismo em Curitiba. Não havia grupos dedicados ao fortalecimento da democracia. As associações que se ocupavam da fiscalização pública começavam a se estruturar.

Hoje organizações como Code for Curitiba, Instituto Atuação, Politikei e os observatórios sociais exercem ações de elevada importância e silenciosamente vão transformando a prática democrática e a forma como o poder público e a sociedade se relacionam.

Para o bem ou para o mal, o mundo ficou mais corporativo. Nas redes digitais e fora delas, as pessoas passaram a se organizar em grupos de defesa de pautas setoriais. Aglutinam-se em blocos provisórios, defendendo interesses comuns momentâneos, por vezes, valendo-se mais de táticas emocionais que de estratégias racionais. E enquanto a gente se distrai discutindo se as festas de carnaval vão acontecer neste momento de crise econômica e política, o crime organizado vai se enraizando no centro da capital paranaense, controlando o tráfico e fazendo suas vítimas diariamente.

A desagregação da opinião pública também produz seus efeitos. Ela não mais se restringe a jornais, rádios e TVs. Agora convive numa relação quase horizontal com algoritmos, redes sociais, organizações sem fins lucrativos, especialistas, blogueiros, indivíduos influentes e... a multidão.

Tudo isso afeta a política e a cultura de participação. Desde que comecei a escrever esta coluna há seis anos, e que hoje se despede, a sociedade passou a ser mais dinâmica, pujante e descobriu que ela própria pode criar o futuro que deseja. Isso apesar de todos percalços de criminosos e corruptos que felizmente a Lava Jato nos revelou.

Em outros tempos, seria impensável uma operação conjunta de tamanha magnitude como a que vem sendo realizada pelo Ministério Público e pela Polícia Federal. Há uma década, talvez, fosse mais fácil dar certo o “grande acordo nacional” de Romero Jucá e seus colegas que dominam o poder em Brasília. Até colocar um ministro no Supremo Tribunal Federal poderia parecer uma boa ideia para “estancar a sangria”. Mas não deu certo no caso do mensalão e é de se esperar que falhe também agora.

A realidade se tornou mais inóspita para corruptos e corruptores. Nesta coluna de despedida, só tenho a dizer que espero que a sociedade continue avançando na consolidação da democracia, em um ambiente criativo e inovador que gere prosperidade para todos. Meu muito obrigado por terem me acompanhado nestes seis anos, sugerindo, criticando, debatendo. É por meio desse compartilhamento rico, saudável e respeitoso que iremos criar o futuro que desejamos.

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