Se as eleições deste ano foram um fiasco de participação popular nas redes sociais, o mesmo não se pode dizer dos movimentos da sociedade organizada, que foram às ruas para disseminar informações contra a compra de voto, corrupção e ilegalidades eleitorais.
No Paraná, existiram bons exemplos. Por iniciativa da Seção Paraná da Ordem dos Advogados do Brasil, foram constituídos no estado 18 grupos que atuaram nestas eleições com uma plano de ação educativo os chamados Comitês 9840. Na capital, cerca de 60 entidades participaram do comitê, que empresta o seu nome da Lei de Compra de Voto, como é chamada popularmente a Lei Federal n.º 9840 de 1999. "Aqui em Curitiba participaram ativamente organizações como CNBB [Confederação Nacional dos Bispos do Brasil], os sindicatos dos médicos e veterinários, a Federação da Agricultura do Paraná, Rotary, Lyons, Instituto GRPCom", afirma a secretária geral do comitê, Zuleika Giotto.
"Individualmente é muito difícil o cidadão influenciar a política. O comitê é uma forma de várias entidades apartidárias participarem da política."
Além de ações educativas com o objetivo de orientar a população sobre o que é permitido e o que é crime eleitoral, o comitê criou um "disque denúncias" para que os cidadãos pudessem relatar casos de infrações eleitorais. Segundo Zuleika, o comitê recebeu 180 denúncias, que tinham algum tipo de prova testemunhas, fotos, páginas na internet. O grosso das denúncias era de propaganda irregular e compra de voto. "Deu para perceber que as pessoas querem participar da política. Muita gente ligava para se informar", afirma.
O curioso da situação relatada por Zuleika é que a experiência no comitê vai muito além do protagonismo educativo. Das discussões internas, nos debates informais do cotidiano, os dez mais atuantes membros do Comitê 9840 de Curitiba passaram a discutir a cidade. Começaram a pensar estrategicamente. Ela afirma que o grupo sentiu falta de um debate sobre a transparência pública e de uma discussão aprofundada sobre sustentabilidade da região metropolitana. "A transparência precisa ser acessível. Não se pode querer que uma dona de casa tenha conhecimentos de um contador para entender o custo da merenda escolar", afirma ela.
A experiência do Comitê 9840 mostra que ações inicialmente pequenas orientar sobre crimes eleitorais podem ter desdobramentos complexos uma análise de políticas públicas para a cidade. Os grupos do Comitê 9840 fazem parte daquela sociedade organizada que fez a diferença em 2012.



