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Os favoritos na corrida eleitoral para 2018 são os mesmos da eleição de 2002. Passaram-se quinze anos e as lideranças mais lembradas para governar o estado são os senadores Roberto Requião (30% das intenções de voto) e Alvaro Dias (27%), conforme mostrou levantamento do Instituto Paraná Pesquisas publicado na quarta-feira (1), na Gazeta do Povo .

Não importa que as eleições sejam somente a daqui três anos e meio. É desalentador que nomes consolidados sejam de longe os favoritos para uma disputa ao governo do estado em 2018. Não por ser Requião ou Alvaro os políticos lembrados, mas porque sem a ascensão de novas lideranças, que oxigenem a discussão pública, o debate público não evolui.

Especialistas interpretaram a pesquisa como um mero retrato da lembrança do eleitorado sobre a carreira de políticos experientes. Ao mesmo tempo rechaçaram que o levantamento possa ser admitido como um cenário real para a próxima eleição. Até faz sentido. Mas a explicação não dá conta da complexa dinâmica partidária que sufoca o surgimento de novas lideranças e consolida o poder de alguns poucos caciques locais.

Monopólio partidário

Os partidos brasileiros se tornaram estruturas monolíticas. Eles detêm o monopólio da política no país por determinação constitucional. Mas em seu interior não são democráticos. Na prática, são usados como se fossem propriedade de poucas lideranças, por vezes, como posse de poucas famílias.

Há ainda uma tendência hoje de a política brasileira se consolidar como negócio familiar, em que herdeiros de dirigentes locais impõem seus sobrenomes como marca de poder e tentam perpetuá-los ao longo de gerações.

Não haveria problema nessa prática se o espaço também pudesse ser partilhado de forma igualitária por não-herdeiros dentro dos partidos. Mas as legendas, com raras exceções, seguem para um caminho antidemocrático, atendendo apenas objetivos privados e de curto prazo.

Abertura democrática

Boa parte dos problemas da política hoje está no uso totalitário dos partidos. Se existe uma revolução possível na cultura de participação, ela está na democratização interna das legendas.

Até pouco tempo predominava a concepção de que não era possível interferir nos procedimentos internos dos partidos porque isso violaria a autonomia do direito fundamental de livre associação. Havia o medo de a mão pesada do Estado interferir indevidamente nos assuntos internos e , assim, comprometesse o exercício da democracia.

Só que acabou acontecendo o contrário. Os políticos surgidos a partir da democratização consolidaram o poder dentro dos partidos de tal maneira que o surgimento de novas lideranças somente é possível se eles assim desejarem.

Mãos à obra

A forma mais adequada para resolver essa situação está descrita no I-Ching – antiga obra chinesa – no hexagrama 18, cujo título é “Trabalho sobre o que se deteriorou”. Esse hexagrama simboliza uma tigela em cujo conteúdo se proliferam vermes, por causa da indiferença dos homens.

É exatamente a situação dos partidos. A sociedade deixou que algumas lideranças dominassem a política partidária e impedissem que internamente imperasse a democracia. Essa indiferença da sociedade e o excesso de liberdade conferido aos dirigentes teve como consequência que os partidos se transformaram em entes antidemocráticos, ao mesmo tempo que, ironicamente , eles são os únicos legitimados a participar de eleições.

O hexagrama 18 do I-Ching, na versão traduzida e comentada pelo alemão Richard Wilhelm, traz um bom conselho para abrir caminho à democratização interna das legendas. “Aquilo que se deteriorou por culpa dos homens pode ser pelo seu trabalho restaurado. O que levou a esse estado de corrupção não foi um destino imutável, mas o uso abusivo da liberdade.” Portanto, diz adiante, “O trabalho visando à melhoria das condições é promissor”.

Na vida partidária isso significa, por um lado, uma reforma legislativa que estimule a democratização dos partidos. Regras que criem a obrigatoriedade de prévias facilitariam a adesão de gente que hoje vive fora dos partidos. Por outro, há a necessidade de mudança de comportamento das militâncias. A indiferença e a aceitação precisam dar lugar à energia e à decisão de mudança. Esses fatores conjuntamente vão permitir a proliferação de novas lideranças, algo benéfico para a consolidação da democracia brasileira.

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