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O coro da multidão

Futevôlei à participação

Parece até mentira, mas o exercício de um mandato pode evoluir do futevôlei em dia de trabalho à democracia participativa na internet. Em 2011, no dia 3 de fevereiro, o então recém-empossado deputado federal Romário (PSB-RJ) cabulou a primeira sessão legislativa da Câmara dos Deputados, para jogar futevôlei com os amigos, no Rio de Janeiro. O jornal Extra flagrou o ex-jogador de futebol na praia, fotografou e publicou no dia seguinte, uma sexta-feira, a foto de Romário na capa, com o título: "Olé no Eleitor – Romário assina ponto na Câmara e vem para o Rio jogar futevôlei".

Na ocasião Romário justificou o comportamento dizendo que a sessão não era deliberativa – não teria nenhuma votação – e que, portanto, a presença não era obrigatória. O ex-atleta disse que, apesar de ter ido à praia, tinha feito reunião com assessores. A partida de futevôlei só havia começado às 17h30, depois dos compromissos de trabalho. O episódio foi um erro que prenunciava uma carreira política péssima, que poderia produzir resultados vergonhosos. Mas Romário parece ter aprendido a lição.

Com o desejo de ser candidato ao Senado, o deputado está usando um site colaborativo para que os eleitores possam avaliar os seus projetos. Na página o deputado propõe a "democracia digital do parlamento" e pretende retirar de pauta projetos de autoria dele que tenham rejeição de 51% dos eleitores que se manifestarem no site. Para que a retirada do projeto seja considerada válida, Romário estabeleceu o volume mínimo de dez mil votos. Quando se atinge essa marca de votos e ocorre também 51% de rejeição, fica estabelecido o período de 90 dias para que esse percentual permaneça estável. Depois desses três meses, se a rejeição continuar acima de 51%, Romário se compromete a retirar o projeto.

Para validar as participações dos internautas, o deputado usa a plataforma "Vote na web", que permite o cadastramento por e-mail ou do Facebook. No site interativo de Romário é possível também que o internauta sugira projetos.

A iniciativa de Romário rompe com a lógica do político tradicional. A lógica da velha política, pela qual os eleitores só devem ser consultados durante o período eleitoral, ainda é dominante. Contudo, a ideia de compartilhar o mandato com os eleitores começa a ganhar a simpatia de alguns postulantes.

Submeter suas propostas ao crivo popular na internet é algo novo no Brasil e pode resultar em interessantes experiências democráticas. Lembra o Demoex, um partido local de Vallentuna, na Suécia, que atua sem ideologias políticas predeterminadas, mas com um compromisso claro – ampliar a democracia na sociedade. O Demoex faz isso por meio de discussões e votos usando uma plataforma de debates na internet. O posicionamento que recebe mais apoio deve ser seguido pelo representante eleito do Demoex quando tiver de votar na Câmara local.

É difícil prever se a proposta de Romário terá o engajamento de eleitores, ou em que medida ele vai se comprometer com o resultado de seu experimento, ou, ainda, se vai continuar a investir em ferramentas inovadoras de participação política. O bom é ver que há gente tentando novas formas de exercer mandato e de fazer política. Novidades como essa contribuem para produzir fissuras no engessado sistema de representação brasileira.

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