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Enquanto isso em Brasília...

O movimento Adote um Distrital, em Brasília, acaba de criar um ranking de fiscalização dos deputados. A ideia inovadora leva em conta critérios como realização de audiências públicas, assinatura às CPIs realizadas no legislativo distrital, e proposição de requerimentos feitos à administração pública. O objetivo é ter um indicador que possa avaliar a atuação dos parlamentares do Distrito Federal.

No Paraná, quem se habilita a organizar um ranking dessa natureza para a Câmara de Curitiba ou para a Assembleia Legislativa?

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É de estranhar o silêncio das militâncias jovens dos partidos políticos, em meio à crise das instituições brasileiras. Dos jo­­vens se espera, ou seria desejável esperar, uma atitude in­­transigente contra suspeitas de corrupção e de apropriação de bens públicos por políticos. Dos jovens se esperam novas ideias e novas práticas para a renovação de comportamentos na vida pública. Es­­pera-se que defendam a ética acima das ma­­tizes partidárias. Entre­tan­to, nada disso ocorre.

Os fatos – não o discurso – têm demonstrado que grande parte da militância jovem está propensa a obedecer aos caciques dos partidos sem abrir os olhos. É a "síndrome do bom cordeiro", ou, como diz o ditado: "cabrito bom não berra".

Em Curitiba, onde estão as manifestações dos militantes jovens do PSDB contra as suspeitas de irregularidades en­­vol­vendo o presidente da Câ­­ma­­ra Municipal de Curitiba, João Cláu­dio Derosso (PSDB), a esposa dele e contratos de pu­­blicidade milionários? É aceitável "tolerar pecadores, mas não o pecado"?

No âmbito nacional, onde estão as críticas dos jovens pe­­tis­tas contra os desmandos na admi­­nistração federal? De­­nún­cias de tráfico de influência, uso indevido de recursos públicos, caronas em jatinhos de empresários, fizeram cair quatro ministros da presidente Dilma Rousseff (PT). Tolera-se suspeitos, em troca de governabilidade?

E os jovens peemedebistas? Dois dos quatro ministros de Dil­ma que caíram até agora por causa de denúncias – Wag­­ner Rossi (Agricultura) e Pedro Novais (Tu­­ris­­mo) – eram do PMDB. A queda de No­­vais, na semana passada, aliás, tem um repertório de variados atos, que vai desde gastos com motel e salário de sua governanta pagos pela Câmara dos Deputados até denúncias de corrupção no Ministério do Turismo, que levaram o secretário-executivo da pasta a ser preso na Opera­ção Voucher, da Polícia Federal. Não seria apropriado defenderem que a le­­genda moralizasse seus quadros e se tornasse menos fisiológica?

E a União Nacional dos Estu­dantes, cujo presidente Daniel Iliescu é militante da União da Ju­­ventude Socialista, movimento ligado ao PCdoB? Pegou mal a UNE não aderir à Marcha Contra a Corrupção, em Brasí­lia, no Sete de Setembro. Ao deixar de apoiar o movimento, a entidade passou a dar razão para quem a considera cooptada pelo governo federal.

Por trás do servilismo das militâncias, há uma lógica perversa para que isso ocorra. Os donos dos partidos são também "donos" de cargos e os distribuem para os obedientes apoiadores de campanha. Essa é a regra brasileira. Em países civilizados, com elevado nível de cultura política, é inaceitável que políticos continuem administrando recursos públicos, após suspeitas de mau com­­portamento. Não se aceita a permanência em cargos por um simples motivo – a corrupção não é tolerada porque o interesse da sociedade precisa ser resguardado.

As militâncias poderiam ser excelentes agentes de transformações dos partidos. Poderiam exercer pressão sobre seus líderes, a fim de que o ambiente in­­terno das legendas fosse mais democrático e ético, rompendo com a autocracia partidária existente. É por essa ra­­zão que o silêncio das militâncias jovens é preocupante. Su­­gere que o comprometimento com a ética e os interesses coletivos não estão acima das lutas político-partidárias pelo poder. Sugere que há nos partidos a aceitação generalizada de que suspeitos de ilegalidades sejam mantidos em posição de co­­man­­do nas legendas.

Talvez o efeito mais grave da acomodação ética das militâncias seja a reprodução dos ví­­cios da velha política na cabeça e no cotidiano dos jovens líderes que são formados na militância. Se realmente o silêncio significar aceitação, obediência e servilismo, será difícil que os líderes surgidos da vida partidária venham representar a tão desejada renovação na vida pública brasileira.

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