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Por um instante se coloque no lugar de quem tem algum tipo de deficiência visual grave ou que seja cego. Imagine que caminha no centro da cidade. Perceba a dificuldade de saber onde está e de poder encontrar seu rumo. Agora imagine que um aplicativo de celular pode ajudar você a se locomover, informando-lhe, quando se aproxima de pontos de ônibus, quais são as linhas que passam por ali. Você consegue saber se o ônibus está chegando para o embarque. O protótipo desse aplicativo, bastante útil para a locomoção de cegos em centros urbanos, foi desenvolvido pelo time vencedor do Hackathon Cívico de Curitiba, que ocorreu no fim de novembro.

Batizado de “Veever” o aplicativo foi desenvolvido numa maratona de programação de 40 horas, por um time multidisciplinar composto por cinco jovens. “Eu diria que, no fim das contas, a maior vitória não foi da minha equipe, mas daqueles que puderem ser beneficiados pela aplicação”, avalia João Pedro Novochadlo, estudante de Publicidade e Propaganda, responsável pela comunicação e marketing do projeto, além de co-responsável pelo modelo do negócio, em conjunto com o bacharel em Direito Marcel Lima e Silva. A programação do aplicativo ficou sob os cuidados de Lohann Coutinho, estudante de Sistemas de Informação, Leonardo Custódio, programador e acadêmico de Medicina, e Tato Levicz, estudante de Engenharia Mecatrônica.

A equipe elaborou o protótipo, a estratégia de comunicação e de marketing, além de confeccionar a apresentação institucional do aplicativo. O software coleta informações de dispositivos de microlocalização – chamados de “beacons” (farol, em tradução livre) – que precisam ser instalados no ambiente urbano, e transmitem esses dados para o celular do usuário. O smartphone, então, dispara mensagens de voz.

Essa tecnologia consegue diferenciar usuários a centímetros de distância via bluetooth e pode captar sinais a centenas de metros. Foi lançada em 2013 e tende, assim que passar o pico de euforia com essa inovação, ser bastante usada nos próximos anos, em especial no setor do comércio. “Hoje cada beacon que teria de ser instalado custa entre U$5 e U$30 dólares, mas em um ano e meio a previsão é que caia pela metade [Lei de Moore]”, explica João Pedro.

O time fez um mapeamento da cidade de Curitiba e Região e constatou cerca de 2 mil pontos de ônibus e aparelhos públicos em que poderiam ser instalados beacons para se comunicar com o aplicativo. Apesar de a equipe ter feito dezenas de “testes de laboratório”, falta, agora, testar o funcionamento da ferramenta no mundo real.

Antes de sair programando loucamente, os maratonistas cívicos foram conversar com deficientes visuais para avaliar se a ideia que tinham em mente iria funcionar. “Era importante saber se as mensagens de voz não atrapalhariam a locomoção, já que usam muito a audição para se situar. O que eles nos disseram é que, embora reduzisse um pouco a atenção auditiva, o aplicativo ajudava em outros aspectos”, explica João Pedro. “Até porque o fone de ouvido foi programado para captar o som ambiente, ou, mesmo, pode se usar em viva voz.”

A ideia surgiu, segundo João Pedro, por conta da afinidade que parte da equipe tem com o tema, por fazer trabalho voluntário com instituições de apoio a cegos. “É um sentimento incrível poder causar impacto social, trazendo, nas palavras de um dos cegos que entrevistamos, o sentimento de inclusão”, diz Joao Pedro.

Nessa história do vencedor do Hackathon Cívico da prefeitura de Curitiba tem algo muito extraordinário que vai além do desenvolvimento de um aplicativo útil. É prova de que transformar a cidade é algo que pode ser realizado com um pouco de esforço, criatividade e num curto espaço de tempo. Iniciativas como essa mostram que o caminho da inovação pública não precisa ser dos projetos grandiloquentes e caros. Podem começar pequenos, humildes, mas nem por isso menos poderosos. Na nova lógica mundial, os pequenos vencem os grandes e levam tudo.

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