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Mero calote retórico?

Pegou mal a declaração do secretário para Assuntos da Copa do Mundo de 2014, Mário Celso Cunha (PSB), dada em 2010 quando era vereador e conselheiro do Clube Atlético Paranaense (CAP) e divulgada na edição de domingo da Gazeta do Povo. Em uma reunião do conselho do CAP, Cunha afirmou que o clube não precisava se preocupar em contrair empréstimos para realizar reformas no estádio da Arena. Segundo ele, caso o CAP não conseguisse pagar a dívida, poderia eventualmente dar o calote, porque havia a possibilidade de o governo anistiar a dívida. Há evidente conflito de interesses. Embora não haja indício de que secretário favoreceu o clube em detrimento do interesse público, a declaração sobre o calote o coloca em má situação. Qual é a sua opinião?

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Para o bem ou para o mal, março está sendo o mês das bicicletas. Para o mal, porque atropelamentos de ciclistas estão semanalmente no noticiário. Na semana passada, um jovem belga que fazia intercâmbio no Brasil morreu atropelado em Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro. Em 9 de março, um senhor de 71 anos foi atropelado por duas motos na Linha Verde, em Curitiba. Para o bem, os ciclistas estão se transformando em força política e propondo o uso da bicicleta como alternativa viável de transporte coletivo.

Em 6 de março, uma manifestação de magnitude nacional foi realizada em 31 municípios brasileiros, reunindo milhares de pessoas, que protestavam contra a ocorrência de cinco mortes recentes de ciclistas. Os ciclistas reivindicavam mais segurança, respeito e condições adequadas para o uso de bicicletas nas ruas das cidades. Os protestos foram significativos e adquiriram feições de movimento nacional.

O cicloativismo obedece à lógica dos novos movimentos sociais. Não possui estruturas hierarquizadas de comando, com líderes dirigindo os demais membros que participam de eventos chamados de "bicicletadas". Organizadas pelos ciclistas por meio de todo o aparato tecnológico próprio das redes sociais, grupos de dezenas, centenas, e eventualmente milhares de ciclistas saem pelas ruas das cidades, numa ação afirmativa do uso de bicicletas como alternativa de transporte. O jornalista e criador do blog "Ir e vir de bike", Ale­­xandre Costa Nascimento, resume a essência do movimento: "Não há líderes. O movimento é horizontal. Cada um escolhe o seu grau de envolvimento".

Mesmo sem líderes, algumas pessoas acabam por se envolver com mais intensidade. Em Manaus, um dos ciclistas mais ativos do movimento, o biólogo Ricardo Braga-Neto, afirma que há uma demanda reprimida do uso de bicicleta e que agora está sendo despertada. "Nós apenas oferecemos uma oportunidade de pedalar pela cidade, de fazer novos amigos, de ter uma atividade física que não polui, que integra, humaniza." Segundo ele, a estratégia do movimento é de mostrar ao poder público que há demanda e que, portanto, é preciso encarar o tema com mais seriedade.

Na essência, o desejo maior dos cicloativistas é tornar a bicicleta uma opção para o transporte público. Sabem, entretanto, dos obstáculos de infraestrutura e de comportamento para se conseguir essa proeza. Terão de convencer o poder público a implantar um sistema de ciclovias, com o objetivo de induzir o aumento de ciclistas nas ruas, e a investir em educação no trânsito, a fim de reduzir a velocidade de tráfego nas cidades.

Ao fazer política das pedaladas pelas cidades, os ciclistas entram no jogo da vida pública, com tudo de bom ou ruim que ele proporciona. Portanto, não esperem eles que as autoridades entendam e aceitem suas necessidades. Serve de alerta a conduta bizarra do presidente da Câmara de São Paulo, José Police Neto (PSD). O vereador pedala cotidianamente pelas ruas da capital paulista para ir à Câmara, sempre escoltado por policiais militares, para não correr risco de ser atropelado. É um dos poucos ciclistas do país que transitam em segurança pelas ruas, deixando evidente para todos a sua condição de ser superior aos demais cidadãos. Logo, não há como elogiá-lo por andar de bicicleta para ir ao trabalho.

Os ciclistas estão dando suas primeiras pedaladas políticas. E como a vida pública é cheia de contradições e ambiguidades, não faria mal se estendessem um pouco sua pauta de reivindicações. O movimento não perde força se, ao mesmo tempo em que defender o direito de pedalar com segurança nas cidades, também defender uma conduta republicana dos agentes públicos, de modo a evitar o uso de bens públicos para fins privados. Inibir os maus comportamentos de pessoas como José Police Neto (PSD) é tão essencial quanto melhorar o transporte coletivo por meio da adoção de bicicletas.

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