Finalmente o Brasil tem um Poder Legislativo forte. Mas não pelos motivos que a sociedade gostaria. Os presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados, ambos do PMDB, detêm hoje o controle da pauta de discussão e a influência necessária para conduzir a votação de projetos de interesse do governo, entre eles, um de vital importância, o de ajuste fiscal. Sabidamente sem a aprovação do ajuste o país demorará mais para sair da crise.
A discussão do Congresso com a União, entretanto, não tem se dado pautada em interesses republicanos. Não há debate técnico sendo realizado sobre a conveniência do ajuste ou sobre os efeitos que uma eventual desaprovação terá no crescimento do Brasil. O jogo de interesses está mais para a ampliação de influência dentro do governo, controlar ministérios, ter mais cargos para nomear.
O Poder Executivo forte, que passa o rolo compressor sobre oposicionistas, sempre foi criticado. Basta lembrar do caso recente dos deputados governistas do Paraná que aceitaram atropelar a democracia, entrando de camburão da Polícia Militar na Assembleia Legislativa para votar um “pacotaço” de medidas impopulares sem ter de discutir com a sociedade. Deu no que deu.
A experiência está demonstrando que ter um Legislativo forte, assim como ter um Executivo imperial, não resolve os entraves da democracia brasileira. O que falta são partidos que discutam ideias no Parlamento com base em programas de partido e representantes de qualidade. Sem discussão com base em ideias programáticas irá se continuar observando disputas escancaradas por cargos e poder. Sem a maciça entrada de pessoas de bem para a política partidária, os interesses pessoais vão prosseguir se opondo aos interesses da sociedade.
Dessa crise política, abre-se oportunidades para renovação. A opinião pública, a sociedade organizada, os cidadãos engajados precisam voltar a tomar a política como uma atividade nobre – buscando meios de assumir o controle dos partidos, democratizando-os, e excluindo de seus quadros os membros comprovadamente corruptos.



