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As redes sociais nas últimas semanas estão mais para um Coliseu moderno que para uma ágora grega antiga. Parte da sociedade, nos camarotes virtuais ou nas ruas, prefere lutas ferozes à argumentação racional. Nunca se viu tanta barbaridade justificatória para o destempero verbal nas redes sociais, violência moral e física e depredação patrimonial. Para piorar, da direita à esquerda, todos conhecem gente que distorce argumentos para aceitar barbaridades, escolhendo as informações que melhor se adequam ao discurso que lhes convém.

É assim que aceitam sem pensar a depredação de jornais, de patrimônio público ou privado. Só que fins nobres jamais serão justificados por meios violentos. Numa ditadura, o uso de violência por civis é ingenuidade – o Estado totalitário detém o monopólio da força e eficazes instrumentos de inteligência para reprimir os cidadãos. Numa democracia, além do monopólio do aparato policial, a própria natureza do regime deslegitima o emprego de meios violentos como estratégia para mudança.

Depredar patrimônio alheio, seja público, do grande capital ou de pequenos comerciantes, é inaceitável

Depredar patrimônio alheio, seja público, do grande capital ou de pequenos comerciantes (como já aconteceu em Curitiba no restaurante da Dona Evani, no Centro Cívico, em 2013), é inaceitável. Se a insatisfação tomou conta da população por qualquer que seja o motivo, há pelos 198 meios catalogados pelo pensador Gene Sharp na obra Da ditadura à democracia e que vale conhecer para uma atuação prática eficaz.

O regime democrático, mesmo quando possa se entender que está ameaçado pela atuação dos próprios representantes do povo, pressupõe embate no campo do discurso e da mobilização popular. Mas isso não pode se dar a partir de uma moral flexível aos interesses de grupos partidários.

Do lado dos “petralhas”, você ouve o discurso do “cadê o barulho das panelas?” a cada novo escândalo de corrupção, embora eles próprios não estivessem interessados em discutir antes o problema. Do lado dos “coxinhas”, você nota um silêncio quando escândalos atingem membros do novo governo.

Claro que há gente de todos os espectros ideológicos que não concorda com essas visões levianas e entende que ser contra a corrupção transcende cores partidárias. Afinal, em sã consciência ninguém aceitaria ver recursos públicos sendo apropriados por um bando de picaretas que se travestem de políticos.

Ser contra a depredação de patrimônio, a corrupção, o patrimonialismo dos altos funcionários de Estado e suas regalias nababescas deve estar presente na convicção de quaisquer cidadãos, sejam eles militantes ou não. Ser favorável às liberdades civis e ao respeito à coisa pública deve ser valorizado por todos. Pautar a conduta por princípios e pedir a saída dos corruptos onde eles estiverem, independentemente das simpatias partidárias.

Felizmente, a sociedade vai renascendo com uma nova perspectiva política. Jovens ativistas começam a desenvolver diversas abordagens inovadoras para encarar os problemas da política e certamente algo de bom surgirá desses novos movimentos sociais organizados. Mas é preciso ainda mais ímpeto da sociedade em buscar pontos de contato entre os diferentes setores, conciliar interesses e pautar ações com base em valores comuns.

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