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O Coro da Multidão

Um “museu da cidade” como arma contra a violência

Já virou lugar comum dizer que a área de segurança não é de responsabilidade de prefeituras. Como a gestão do aparato policial é de competência do governo do estado, as administrações municipais não teriam meios de reduzir a criminalidade. Esse pensamento parte do princípio de que a redução da violência é mero caso de polícia e que repressão é a única saída para o problema. Engana-se quem pensa assim. Pode soar estranho, mas é perfeitamente possível combater a violência, a depredação do patrimônio público e a falta de cidadania por meio da abertura de um museu.

Em vez de trabalhar medidas setoriais desconectas, as prefeituras podem apostar em políticas criativas, que integrem ensino e cultura local, construindo um museu que conte a história da cidade, compartilhe as angústias atuais da sociedade e promova a reflexão para um futuro urbano melhor.

É o que fazem os ingleses, no Museu de Londres. Estabelecido ao lado de ruínas de uma muralha romana, o museu conta a história social de Londres, desde a era das cavernas até nossos tempos hipermodernos. A visita de estudantes de todas as idades, acompanhados de professores ou monitores, é cotidiana. Lá, usa-se recursos multimídias, de toda a ordem. Em uma mesa interativa, por exemplo, o visitante se envolve em um jogo de perguntas e respostas sobre os problemas de Londres. O sistema interativo apresenta uma série de opções e o visitante pode escolher quais políticas públicas acha que deveriam ser implementadas. Depois que realiza sua escolha, o sistema apresenta os resultados que diversas políticas públicas sobre o tema tiveram quando praticadas em outros lugares do mundo.

A essa altura, o leitor pode afirmar: "Mas Londres é LONDRES". Uma cidade de quase dois mil anos, fundada pelos romanos em 43 depois de Cristo, com o nome de Londinium. Uma cidade global complexa, com centenas de etnias que somam 7,5 milhões de pessoas, trocando diariamente ideias, produtos e serviços. Sem dúvida, um dos lugares mais interessantes do planeta. Um modelo como o Museu de Londres, portanto, jamais poderia servir para uma cidade como... Curitiba.

Engana-se quem pensa assim. O sucesso londrino deve é servir de exemplo. O que ali foi realizado pode inspirar projetos ousados de populações que ainda buscam uma identidade. Para paranaenses em geral, e curitibanos em particular, é uma bela oportunidade de criar um museu que responda às suas necessidades de fortalecer vínculos históricos e sociais, bem como de elevar seus padrões de cultura, cidadania e inovação.

A criação de um museu que conte a origem da cidade e de seus habitantes permite a identificação das pessoas com o lugar em que vivem. Incentiva a reflexão sobre si mesmo e sobre a comunidade da qual o cidadão participa. Estimula o pensamento a respeito de novas políticas públicas. Facilita a troca de informações e promove o debate. Estando conectado com políticas públicas de educação e fazendo parte da grade curricular de ensino, o "museu da cidade" deixa de ser um espaço conservador do passado e torna-se o instrumento para projetar o futuro.

Coibir a violência por meio do aparato policial é necessário. Porém, é só um dos componentes para a solução do problema. A ampliação do aparato policial como um fim em si mesmo pode, no decorrer do tempo, se mostrar uma estratégia ineficaz.

Um museu concentrado em pensar o lugar em que vivemos, entretanto, pode estimular desde cedo o sentimento de pertencer a uma comunidade, estabelecendo vínculos de solidariedade. Pode reproduzir a consciência do que é ser um cidadão, um indivíduo que vive em uma cidade e que está conectado a ela e todos as demais pessoas que ali moram. Se o "museu da cidade" for capaz de induzir aos cidadãos sentimentos dessa natureza desde a infância, a criminalidade pode ser evitada em seu nascedouro. Então, em vez de reproduzir mais violência, as cidades irão produzir cidadania.

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