Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
O Coro da Multidão

Vamos por os camaleões para correr

Para evitar que a sociedade concentre sua atenção nos escândalos que se acumulam na Câmara Municipal de Curitiba, os vereadores recorreram à estratégia do camaleão. Não comentam as denúncias sobre os contratos de publicidade na Câmara Municipal de Curitiba. Preferem permanecer imóveis para, quem sabe, assim conseguir impedir danos de imagem que possam frustrar seus projetos de reeleição. E podem ser bem sucedidos. Basta que consigam manter a camuflagem do silêncio por tempo suficiente para que as denúncias sejam relegadas ao esquecimento.

A semana passada foi repleta de denúncias graves. Desde que a primeira denúncia veio à tona, na noite de segunda-feira da semana passada, os parlamentares em momento algum se deram ao trabalho de tratar diretamente do assunto em sessão plenária da Câmara. A série de reportagens Negócio Fechado, produzida em parceria entre a Gazeta e a RPC TV, mostrou um esquema de distribuição de recursos públicos para empresas de publicidade na Câmara de Curitiba, envolvendo, por vezes, parlamentares e, por vezes, funcionários comissionados dos vereadores.

Segundo uma das reportagens, o presidente do Conselho De Ética da Casa, vereador Francisco Garcez (PSDB), foi sócio do jornal Folha do Boqueirão, veículo que recebeu recursos de publicidade da Câmara. Na mesma reportagem, descobre-se que o presidente da CPI que investigou os contratos de publicidade do Legislativo, Emerson Prado (PSDB), tinha em seu gabinete o dono de uma das empresas beneficiadas com verba da Câmara. É no mínimo curioso o fato que, tanto o Conselho de Ética quanto a CPI tiveram acesso aos mesmos documentos que teve a reportagem, mas não chegaram a nenhum resultado prático. A CPI inclusive encerrou os trabalhos afirmando serem inconclusivos os indícios de responsabilidade de Derosso no caso dos contratos de publicidade.

É igualmente curioso o silêncio dos vereadores. Não só daqueles que foram citados nas reportagens, mas de todos os parlamentares, sem exceção. Na qualidade de representantes do povo, eles teriam o dever constitucional de rapidamente esclarecer o imbróglio que tomou conta da Casa.

Na mesma toada, é vergonhoso o silêncio das militâncias partidárias. Estarão elas cooptadas a ponto de não mais serem atores políticos relevantes? Se a passividade for a marca das militâncias, em especial das alas jovens, estará a se confirmar o que aqui já foi dito mais de uma vez – elas se tornaram meras reprodutoras da política tradicional, que se demonstra cada vez menos útil para a sociedade.

E os cidadãos de Curitiba? O Millôr Fernandes, recém falecido, tinha razão, "no Brasil jamais haverá epidemia de cólera. Nosso povo morre é de passividade". Fora uma minoria corajosa que tem periodicamente saído às ruas para protestar contra a corrupção, eles também permanecem passivos.

Os vereadores e os partidos políticos de Curitiba precisam ser lembrados que o mandato deve ser exercido com responsabilidade. A oportunidade para dar esse recado está se aproximando. Daqui pouco mais de cinco meses haverá eleições municipais.

Em outubro, é preciso por os camaleões silenciosos do Legislativo para correr. Eles precisam estar expostos, sem a camuflagem do esquecimento. Portanto, até lá, não esqueça quem é quem na Câmara de Curitiba.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.