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Setores da esquerda já tinham algumas restrições à Operação Lava Jato. Agora que ela mexeu coercitivamente com Lula, então, a grita aumentou. Acontece que também há setores independentes, neutros, que veem com ressalvas a operação.

E daí? Algum risco às investigações? A princípio não. O próprio juiz Sergio Moro já vislumbrava essas dificuldades. Como ele repete exaustivamente, sua inspiração é a Operação Mãos Limpas, grande cruzada judicial contra a corrupção na Itália no início dos anos 1990. “Na verdade, é ingenuidade pensar que processos criminais eficazes contra figuras poderosas, como autoridades governamentais ou empresários, possam ser conduzidos normalmente, sem reações”, escreveu em seu famoso artigo de 2004.

Dez anos após analisar a operação Mãos Limpas, Moro virou herói nacional com a Lava Jato. O superpoder dele é a experiência: está tarimbado pelos erros, acertos e dificuldades encontradas ao longo das investigações das contas CC5 do Banestado, o escândalo nacional dos anos 1990. Também participou do julgamento do mensalão, como assistente da ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Rosa Weber.

A condução coercitiva de Lula gerou uma onda extra de indignação, não restrita a petistas. Juristas, alguns inclusive críticos notórios do ex-presidente, também se levantaram contra a ação. Qualquer pessoa está sujeita a erros e exageros. Se Moro errou, isso o tempo dirá. Mas seu histórico sinaliza que ele tinha elementos suficientes para fazer o que fez.

Moro, ainda em 2004, dizia que a ação judicial precisa contar com o apoio da opinião pública. “Somente investigações e ações exitosas podem angariá-la. Daí também o risco de divulgação prematura de informações acerca de investigações criminais. Caso as suspeitas não se confirmem, a credibilidade do órgão judicial pode ser abalada”, escreveu.

Teria Moro trocado os pés pelas mãos, colocando em risco a credibilidade da operação?

De todo modo, a controvérsia da condução coercitiva, ao contrário de prejudicar a Lava Jato, pode contribuir.

Na Itália, a operação visou políticos da direita (Democracia-Cristã) como os da esquerda (Partido Comunista). Juntos, fizeram grande oposição às investigações. Mas que foram benéficas, observou Moro: “O processo de deslegitimação foi essencial para a continuidade da operação Mani Pulite. Não faltaram tentativas do poder político interrompê-la”.

O juiz paranaense então narra algumas atitudes tomadas por diferentes governos e as consequentes reações populares. A força da opinião pública conseguiu derrubar propostas que prejudicariam investigações contra a corrupção.

Porém,...

... a Mãos Limpas não conseguiu frear a corrupção na Itália. E, em 2014, 20 anos após a deflagração da operação, jornais italianos publicaram que ela ainda é motivo de discórdia.

Se 20 anos se passaram e os italianos ainda se dividem quanto as motivações e impacto da Mãos Limpas, que dirá de nós, no meio do furacão da Lava Jato?

É impossível que a operação seja unanimidade. Essa divergência existe e continuará existindo, isso é fato.

Carreira política

Outra lição da Mãos Limpas: o juiz mais famoso da operação foi Antonio Di Pietro. Dois anos depois do fim da operação, ele se lançou na política. Foi ministro por duas vezes, senador entre 1997 e 2001, deputado entre 2006 e 2013. Nada de brilhante. Desde 2014 fala em disputar a prefeitura de Milão em 2016, mas está sem partido e, concorrendo de forma independente, tem poucas chances de vitória, dizem jornais italianos. Nos comentários, as pessoas perguntam: por que Di Pietro não permaneceu fazendo o bem como juiz?

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