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Aqui, entre nós, vou confessar que há semanas em que as notícias me deixam bastante angustiada, como esta que passou. Parece que nós, brasileiros, estamos regredindo em vez de avançar. Ao saber de coisas que se passam no Legislativo, no Executivo e no Judiciário, dá até vontade de virar anarquista. Mas na verdade não dá para atirar nem a primeira nem nenhuma pedra, porque de repente aparece uma pesquisa que mostra que o brasileiro desrespeita leis a torto e direito.

Para não deixar ninguém angustiado ao ler esse texto, tenho que me apressar em dizer que as coisas só parecem piores porque temos mais informação, mais controle. De fato, muitas coisas estão péssimas, mas na verdade estamos evoluindo em muitos aspectos.

Na semana que passou, ficamos sabendo de uma investigação que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) está fazendo no Tribunal de Justiça do Paraná. Há uma denúncia grave, de venda de sentença, e por isso os responsáveis precisavam fazer uma análise muito criteriosa. É terrível desconfiar que os magistrados que julgam nossas demandas possam cometer tal tipo de ilegalidade. Mas, pelo menos, alguma investigação está sendo feita.

O CNJ não tem nem dez anos de existência, e seu papel na moralização do Judiciário não tem precedentes na história do Brasil. Então temos um órgão que traz à tona histórias que no passado seriam provavelmente varridas para baixo do tapete. Uma consequência natural é que a imprensa noticiará mais denúncias envolvendo os membros do Poder Judiciário.

Na verdade, há uma tendência de a imprensa noticiar mais irregularidades em todos os poderes e na sociedade em geral, pois há mais ferramentas que auxiliam nisso. Algumas são muito simples, como as teclas ctrl+f para localizar determinada palavra em um documento oficial. Pela internet, temos acesso a um número infinito de diários oficiais, relatórios de despesas, declarações de doações a candidatos, patrimônio dos políticos, dados educacionais, dados sobre o sistema de saúde, situação dos presídios, das estradas, do preço da gasolina na distribuidora e no posto de combustível, do número de julgamentos judiciais, da quantidade de viagens internacionais que um governante faz, só para ficar em alguns exemplos.

Infelizmente, há que se reconhecer que as ferramentas disponíveis para executar falcatruas também foram aperfeiçoadas. Será que sairão vitoriosas?

Às vezes até que parece que sim, porque impera um sentimento de "quero me dar bem e danem- se os outros". É o que mostra uma pesquisa sobre o "jeitinho" brasileiro, feita pelo Centro de Pesquisa Jurídica Aplicada (CPJA) da Fundação Getulio Vargas. Para 82% dos brasileiros, é fácil desobedecer às leis no Brasil. Talvez seja fácil porque há um sem-número de leis, muitas inúteis. Mas os dados mostram que a percepção do brasileiro é que não é necessário seguir as normas. Chama a atenção o fato de que essa percepção é ainda mais forte entre as pessoas de mais renda e mais escolaridade. Faz sentido, ao vermos as irregularidades que são cometidas no Legislativo, Executivo e Judiciário e empresas e entidades de forma geral.

Mas, repito: estamos em uma fase de maior controle e fiscalização. Quem sabe entremos logo em uma fase de acomodação, quando o rigor e a necessidade de transparência acabem com as barbaridades – uma parte delas, ao menos.

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