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Economistas erram muito e precisam rever seus pontos de vista. Quem diz isso é nada menos do que Paul Romer, economista-chefe do Banco Mundial. Com base nas considerações de Romer e nos resultados do Brexit, um colunista liberal do Financial Times, Wolfgang Münchau, fez um alerta: “Reformem o sistema econômico agora ou os populistas irão fazê-lo”.

Clóvis Rossi escreveu sobre esses textos na Folha de S. Paulo desta quinta-feira, e, de tão interessante, vou também explorar o assunto. Tentemos com simplicidade:

1.Para Romer, a macroeconomia regrediu. O artigo que trata disso se chama “O problema com a macroeconomia” (original em inglês: “The Trouble With Macroeconomics”).

2.A macroeconomia analisa a economia como um todo, com o objetivo de se alcançar o crescimento econômico, o pleno emprego, a estabilidade de preços e o controle da inflação.

3.Para atingir esses objetivos, a macroeconomia ortodoxa defende, de forma simplificada, o seguinte: a) controle da meta de inflação, por meio da taxa de juros; b) juros altos diminuem o consumo e inibem o investimento, reduzindo a demanda, o que provocará redução nos preços e controle inflacionário. Com menos demanda, há menos produção e menos emprego, o que gera menos renda. O perigo é esse ciclo se perpetuar.

4.A cartilha ortodoxa prega o superávit, como forma de mostrar que o Executivo consegue poupar e pagar os títulos públicos, emitidos em momentos em que o governo precisava de cash. Sem superávit, o mercado financeiro desconfia do país; pode tirar dinheiro de aplicações (eles são atraídos pelos países pelos juros altos, que remuneram bem); há menos dólares em circulação, e valorização da moeda, o que pode causar inflação, em um país dependente de insumos ou produtos importados.

5.Então, para atingir o superávit, o governo deixa de gastar em determinadas áreas, ou recolhe dinheiro que fica a maior parte do tempo parado (em fundos diversos, para financiar segurança, meio ambiente, etc.).

6.De outro lado, juros baixos estimulam o consumo, a produção, o pleno emprego. É um lugar propício para os negócios, e a grande concorrência entre empresas ajuda no controle de preços. O setor privado funciona bem e o setor público pode investir em áreas essenciais, com a vantagem de a inflação estar controlada e os juros, baixos. Quando há sinais de retorno de inflação, os juros sobem, para equilibrar as coisas.

7.Só que não.

8.Para Romer, não só as teorias macroeconômicas não evoluíram desde os anos 70, como teriam na verdade regredido. Ele nem usa termos como ortodoxia ou heterodoxia, poucos usados fora do Brasil. Fala de maneira geral.

9.Wolfgang Münchau observa: as teorias funcionam bem como teoria, mas não explicam as crises econômicas sem fim, a permanente queda na produção, permanentes desequilíbrios, falha dos bancos centrais em buscar a meta de inflação, taxa de juros zerada (nos Estados Unidos e Reino Unido é abaixo de 1%).

10.Mesmo assim, os economistas desconsideram que as teorias podem estar erradas.

11.Münchau faz um mea-culpa: “Se Romer está certo, e a macroeconomia está regredindo, aqueles de nós que procuram defender a ordem liberal deveriam considerar recuperar as áreas centrais da política econômica. Nós deveríamos tirar a política fiscal do piloto automático e desafiar a tirania da onipresente meta de inflação de 2%. E nós deveríamos começar a fazer a distinção entre os interesses do setor financeiro e da economia como um todo. Falhar nisso foi uma das razões para o voto do Brexit”.

12.Apesar da força dos argumentos, Münchau duvida que as coisas vão mudar. “Os macroeconomistas que desenharam os modelos são os guardiães e os beneficiários do sistema. Eles são os banqueiros centrais independentes. Eles estão administrando os conselhos fiscais independentes. Alguns são ministros das Finanças”.

13.O risco é: se o establishment não quer aprender as lições de 2016, o sistema poderá ser demolido por populistas.

Se as pessoas ficarem céticas, vão acabar embarcando em oba-oba. Que a manifestação de eleitores em diversos países em 2016 sirva de lição para a sociedade brasileira, para que até 2018 tenhamos candidatos bons e compromissados com o desenvolvimento do país.

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