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Rosana Félix

Falta de médicos ou sobra de cidades?

Os médicos têm razão em pedir melhores condições de trabalho em municípios pequenos, obviamente. Mas enquanto isso não ocorre, vamos todos sentar e esperar, deixando a população residente desassistida?

O fato é que a falta de médicos no interior não é ocasionada apenas pela estrutura precária do SUS. Se fosse só isso, haveria ao menos atendimento particular em clínicas, mas esse serviço também é escasso. Uma pequena prova disso é um anúncio no caderno de Classificados da Gazeta do Povo oferecendo salário de R$ 30 mil por mês para atendimento particular de pediatria, otorrino e neonatologia no interior do Maranhão.

Se há falta de médicos para atendimento privado, qual então é o problema do interior do país? Aí entram várias questões que são debatidas de forma até exaustiva aqui nesta coluna. O Paraná e todos os estados do Brasil precisam de uma política de desenvolvimento regional. Os governos estaduais precisam traçar planos e dar uma mão para as cidades caminharem por conta própria para a realização de suas vocações socioeconômicas.

Vou repetir outro assunto: para que ocorra a realização dessas vocações, o Brasil devia é discutir como unir municípios, e não criar leis permitindo o desmembramento. Obviamente as distâncias num país como o nosso são muito grandes, e o isolamento geográfico prejudica o acesso da população aos serviços públicos. Justamente por isso seria muito mais útil e proveitoso construir e manter unidades de saúde onde hoje funcionam prefeituras e câmaras de vereadores de cidades pequenas.

Dos 399 municípios do Paraná, em 100 a população não chega a 5 mil. Desses, 30 têm menos de 3 mil habitantes. (O Alto da Glória, por exemplo, que é um bairro pequeno de Curitiba, tem 5,5 mil moradores.) Então vamos imaginar: e se essas localidades com menos de 5 mil pessoas virassem distritos de municípios maiores? A sede da prefeitura e da Câmara Municipal poderiam virar unidades de saúde. E, o que é melhor, o dinheiro hoje gasto no salário do prefeito, dos secretários municipais e dos vereadores – os quais se reúnem em sessão apenas uma vez por semana e ainda aproveitam recesso no começo e no meio do ano – poderia ser usado em outros serviços, como saúde, educação e infraestrutura urbana.

Não quero desmerecer as cidades pequenas. Mas acredito que suas potencialidades só vão se desenvolver com uma gestão mais eficaz de recursos públicos. E essa gestão passa pelo corte de estruturas desnecessárias.

Infelizmente o governo federal quer adotar uma solução mais imediata para resolver a falta de médicos no interior. A oposição só não está criticando mais a presidente Dilma Rousseff porque prefeitos, de todos os partidos, estão por trás da reivindicação por mais médicos.

Nem sempre os prefeitos conseguem o que querem, isso é verdade. Quando o assunto é saúde, aliás, precisam recorrer a parcelas cada vez maiores de seus orçamentos diminutos, devido ao descaso da União, principalmente, e também dos estados. Mas o ideal é que não existissem esses orçamentos diminutos. O ideal seria termos cidades um pouco maiores, divididas em distritos, com uma gestão conjunta para problemas em comum: saúde, lixo, saneamento...

O que se propõe é o ganho de escala. Os municípios até tentam fazer isso atualmente, por meio de consórcios. Mas essas experiências esbarram nas diferenças partidárias dos prefeitos e na sede pelo poder.

A discussão sobre unificação de municípios também esbarra nos interesses políticos e partidários. Enquanto não discutimos esse tema – que poderia proporcionar uma solução perene às dificuldades hoje existentes – temos a gritaria generalizada. De um lado estão os prefeitos, que marcham para Brasília anualmente para reclamar da queda dos repasses do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) e para pedir auxílio na contratação de médicos. No outro lado temos o governo federal, que, de maneira um pouco autoritária e sem planejar muito, está tentando resolver a situação. Em outro canto há os médicos, que não têm nenhuma obrigação de resolver os problemas do país, mas que poderiam ser mais abertos ao diálogo com a sociedade e com o governo, levando-se em conta que não é possível conseguirmos a perfeição no SUS no curto prazo.

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