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João Doria virou motivo de celebração para a maioria dos paulistanos, mas também é motivo de preocupação para os demais prefeitos de capitais. Todos que assumiram em 1.º de janeiro vieram cheios de expectativas, mas nenhum tem condições de repetir o que o prefeito de São Paulo faz – o que pode ser um defeito, mas também uma qualidade.

O tucano é empresário, é bilionário, tem rede de contatos, não é político e não se mostra paciente para respeitar os tempos da política. Ganhou admiradores em todo o Brasil, que se derretem pelo prefeito no seu perfil do Facebook.

A atuação de Doria na rede social é semelhante ao de outros prefeitos. Os prefeitos do novo tempo postam tudo o que a prefeitura faz. T-U-D-O. Funciona assim: colocam fotos de qualquer serviço público. Limpeza de praça, corte de grama, instalação de poste, abordagem feita pelo serviço de assistência social... E dizem que estão fazendo mais com menos, que estão resgatando o que tinha sido abandonado pela gestão anterior, que vão melhorar tudo...

É uma comunicação bem diferente da que predominava até bem pouco tempo atrás. Geralmente, o público só tomava conhecimento dos serviços públicos quando via as coisas acontecendo perto da casa/trabalho/escola ou quando via alguma notícia nos meios de comunicação.

Na verdade, quando o caso virava notícia, era porque o serviço público não estava sendo feito. Não é que a imprensa goste do lado negativo das coisas, mas é que é função dela fiscalizar o poder público. Se um gari varre a rua, se a assistente social faz abordagem, se as máquinas estão tapando buracos, nada mais são do que serviços públicos de execução obrigatória.

Neste momento, porém, em que os prefeitos todos postam as fotos de varrição de ruas e de tudo o que fazem, conseguem passar a impressão (para um público reduzido no Facebook, é fato) de que trabalham sem parar por suas cidades.

Isso é ainda mais forte no caso de Doria, que mantém uma agenda ativa quase 24 horas por dia. Em muitas postagens dele no Facebook, seus seguidores pedem para que ele “descanse” e “durma mais”.

Doria de fato está fazendo mais, num ritmo frenético. A população adora, mas, em tempos de Lava Jato, é óbvio que as parcerias que ele faz com o setor privado serão questionadas – que empresa doa milhões ao poder público sem esperar nada em troca?

Em entrevista concedida no fim de fevereiro ao jornal Valor Econômico, Doria se mostrou irritado com os questionamentos sobre as parcerias. Diz que é tudo transparente. “As doações têm chamamento público e são explicitadas no Diário Oficial, sem nenhuma contrapartida”, afirmou. Não é bem assim: o programa mais popular, o Corujão da Saúde, começou a ser agendado a partir de 2 de janeiro em alguns hospitais famosos. O edital de credenciamento de instituições foi publicado somente em 6 de janeiro.

A fiscalização de “deslizes” como esse enfrenta um obstáculo: para o cidadão necessitado de serviço público, pouco importa se Doria combinou previamente com o amigo dono do hospital. O que importa para o cidadão é que ele será consultado.

Uma possibilidade que surge é um novo tipo de fiscalização: a dos prefeitos contra prefeitos. Porque não está fácil ser gestor ao mesmo tempo que Doria brilha tanto em São Paulo. Em Curitiba, Rafael Greca volta e meia se depara com comentários no Facebook pedindo para que ele faça como Doria. O mesmo acontece com os demais prefeitos frequentadores da rede social: Nelson Marchezan em Porto Alegre, Marcelo Crivella no Rio de Janeiro, etc.

Mas quem tem coragem de criticar João Doria neste momento? Greca, que gosta de responder aos comentários do Facebook, tenta ao menos defender seus projetos, dizendo que o mutirão de consultas especializadas de Curitiba é melhor do que o Corujão do Doria, por exemplo.

Em termos práticos, não faz nenhum sentido discutir se um programa é melhor que o de outra cidade. Cada local tem suas características e necessidades. Acontece que, em tempos de comunicação direta via Facebook, fica mais fácil para o cidadão comparar a gestão de Greca com a de Doria do que lembrar do que foi feito (ou não) por Gustavo Fruet.

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