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O clima anda muito tenso entre vocês. A sensação que fica é que a saúde do Brasil só vai piorar desse jeito. Parece impossível conseguirmos avançar na área, com esse embate que se formou entre os médicos e o governo federal. Para o cidadão comum, essa discussão toda parece sem sentido. É difícil tomar partido e apoiar integralmente um dos lados – até porque a vida real está bem longe de ser uma luta entre o bem e o mal, onde alguém está certo e o outro totalmente errado.

Na verdade, está começando a virar motivo de chacota essa briga. Em alguns momentos, os médicos parecem estar com a razão, porque a lei prevê algumas regras para o exercício da profissão no Brasil, as quais estão sendo desrespeitadas pelo programa Mais Médicos. Mas, se for para falar de lei, a Constituição Federal de 1988 assegura a todos os brasileiros o direito à saúde. E aí, como ficamos?

Obviamente, os médicos brasileiros não podem ser responsabilizados pelo descaso do poder público com a saúde. Mas, como operadores do sistema, poderiam contribuir com a sociedade brasileira, batalhando por melhorias no atendimento do SUS. Que tipo de ação tem sido feita nesse sentido? Não quero ser impertinente com essa pergunta, mas tenho a impressão de que falta mobilização para alguns assuntos de relevância social. Se não, vejamos:

Já faz algum tempo que existe a proposta de criação de uma carreira de Estado para os médicos, tal qual a do Judiciário. As entidades defendem que essa medida ajudaria na distribuição dos profissionais pelo interior do país. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 454, que trata do assunto, tramita desde 2009 na Câmara dos Deputados. Foram feitos alguns seminários para debater o assunto, mas nada que tenha chamado a atenção da sociedade. Os médicos são bastante ocupados, claro, mas não é difícil fazer uma manifestação. Recentemente temos visto muitos protestos contra o governo federal. Mesmo que o governo não tenha interesse no projeto, vocês médicos podem conquistar o apoio da opinião pública e dos deputados.

O atendimento do SUS é precário em vários aspectos, mas, quando se fala na promoção de saúde, o mais importante é a prevenção, ou não? Os equipamentos são muito importantes para diagnósticos, mas se pelo menos houver médicos generalistas espalhados por todas as regiões, o Brasil já conseguirá avanços importantes em seus indicadores de saúde.

Nesse clima de embate, surgem argumentos completamente equivocados, como uma possível dificuldade linguística. Há quem diga que os médicos estrangeiros não conseguirão se comunicar bem para fazer o diagnóstico, mas, curiosamente, terão capacidade para fazer discursos exaltando o governo federal.

Ah, o governo. É incrível a falta de ambição dos políticos brasileiros. Ninguém tem o desejo de fazer uma gestão que resulte em ganhos permanentes para a sociedade, com mais educação e saúde de qualidade?

Há que se reconhecer que o programa Mais Médicos, presidente Dilma, está ajudando centenas de prefeitos de todos os partidos. Mas tanto Vossa Excelência como seus antecessores sabem que não investiram o suficiente em saúde.

E o pior, devo dizer, não é só a questão financeira, mas a falta de compromisso em melhorar a saúde do Brasil. Vossa Excelência deu tanta atenção para o programa Minha Casa Minha Vida, para o PAC e para o Pronatec (Programa Nacional ao Ensino Técnico e Emprego) que tem deixado de lado a educação básica e os serviços de saúde. Pelo menos é isso que se conclui ao ver os discursos feitos ao longo do ano.

Pessoalmente, acho muito difícil melhorarmos as condições básicas de saúde e educação com uma estrutura pública tão inchada como a nossa. Alguns médicos já leram textos que escrevi, e sabem que defendo uma reorganização municipal, pois há um desperdício muito grande com prefeituras e câmaras municipais em cidades minúsculas, com menos de 5 mil habitantes. E o governo, o que defende? Sinceramente, fico confusa, pois a cada semana há um fato novo desmentindo uma decisão anterior.

Bom, para finalizar, desejo a todos bom trabalho, mas também quero fazer um pedido: que essa discussão ocorra em nível mais sensato e amigável. Conversamos no próximo mês, após minhas férias. Saudações.

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