
A presidente Dilma Rousseff deu início ontem à reforma ministerial impondo um estilo técnico à Esplanada. Confirmou a saída do ministro da Educação, Fernando Haddad, que vai disputar em outubro a prefeitura de São Paulo pelo PT. Para o lugar dele, oficializou o também petista Aloizio Mercadante, que deixa o Ministério de Ciência e Tecnologia. Essas mudanças já eram conhecidas. A novidade foi a indicação de um cientista para o lugar de Mercadante. O novo titular da Ciência e Tecnologia será o atual presidente da Agência Espacial Brasileira, Marco Antonio Raupp.
O PSB, partido da base aliada de Dilma, sonhava em indicar um nome para a Ciência e Tecnologia e, assim, aumentar seu espaço na Esplanada. O nome do ex-ministro Ciro Gomes (PSB-CE) chegou a ser cogitado nos bastidores. Alas do PT também fizeram lobby pela indicação de um político para o cargo. Aliados da senadora Marta Suplicy (PT-SP) esperavam vê-la recompensada por ter aberto mão da candidatura à prefeitura de São Paulo em favor de Haddad.
Outra parte do partido queria indicar o deputado federal Newton Lima (PT-SP) para a Ciência e Tecnologia. Além de político, ele é técnico, argumentavam seus defensores.Lima foi reitor da Universidade Federal de São Carlos. A manobra, porém, tinha outro objetivo: abrir uma vaga na Câmara para o seu suplente: o ex-presidente do PT José Genoino.
A escolha de Marco Antônio Raupp para o ministério, porém, foi bancada por Mercadante e pela própria Dilma. A presidente, segundo um auxiliar, não quis o ônus de abrir uma vaga para Genoino no ano em que o Supremo Tribunal Federal (STF) deverá julgar o escândalo do mensalão, ocorrido em 2005. Genoino é um dos réus do caso. Além disso, a presidente impõe à Esplanada o estilo mais técnico e gerencial algo que estaria nos planos de Dilma mas que, por razões políticas, nem sempre consegue fazer. No ministério, Raupp seguirá a linha de Mercadante na tentativa de ligar o setor acadêmico ao privado.
Currículo extenso
Há dez meses, Raupp ocupava a presidência da Agência Espacial Brasileira (AEB), cargo no qual ganhou projeção. Buscou solucionar os atrasos no envio de satélites nacionais, além de aproximar a agência do setor privado. "Falta uma Embraer no setor espacial", costumava dizer. Um de seus objetivos era unir a AEB com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), entidade da qual foi pesquisador. Para Raupp, não faz sentido o país ter uma instituição para fazer pesquisa e projetar satélites (o Inpe) e outra para coordenar a política espacial (a AEB).
Raupp, de 73 anos, é físico formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e PhD em Matemática pela Universidade de Chicago, além de livre-docente pela Universidade de São Paulo (USP). Nascido na cidade de Cachoeira do Sul, a 196 km de Porto Alegre (RS), a carreira acadêmica de Raupp tem passagem pela Universidade de Brasília (UnB), como professor-adjunto. Além do Inpe, foi ainda pesquisador titular do Laboratório Nacional de Computação Científica.
Ocupou também o cargo de presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), principal entidade científica do país. E comandou a Sociedade Brasileira de Matemática Aplicada e Computacional. Também ocupou o cargo de diretor do Parque Tecnológico, em São José dos Campos (SP). É membro titular da Academia Internacional de Astronáutica (IAA, na sigla em inglês).
A posse de Raupp na Ciência e Tecnologia e de Mercadante na Educação será na próxima terça-feira.
Dança das cadeirasSaída do ministro das Cidades é cada vez mais provável
Ganhou força em Brasília o rumor de que o ministro das Cidades, Mário Negromonte (PP), vai deixar mesmo a pasta. Negromonte perdeu força dentro de seu próprio partido para continuar no ministério.
Dois nomes estão sendo fortemente cotados para o cargo, ambos do PP: Márcio Fortes (foto 3), ex-ministro das cidades e atual presidente da Autoridade Pública Olímpica (APO), e Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), líder do partido na Câmara dos Deputados. Fortes inclusive teve ontem de negar um suposto convite para voltar ao antigo cargo. Mas deixou as portas abertas: "Eu cumpro ordens da presidente [Dilma Rousseff]", disse ele, que ocupou a pasta no governo Lula.
Conta-gotas
A reforma ministerial, iniciada ontem, terá ritmo de conta-gotas e só deve terminar no começo de fevereiro. Além da provável saída de Negromonte, é certo que a ministra da Secretaria das Mulheres, Iriny Lopes (PT), irá deixar a Esplanada. Ela vai concorrer à prefeitura de Vitória (ES). Outra mudança certa é o de Paulo Roberto Pinto, ministro interino do Trabalho desde que Carlos Lupi (PDT) foi demitido, em novembro. O PDT deve indicar seu substituto.






