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Vinte anos depois de deixar o Planalto e nove meses após protagonizar um escândalo de corrupção, tráfico de influência, lavagem de dinheiro e nepotismo, o senador José Sarney (PMDB-AP) terá direito de voltar, na próxima semana, a sentar na cadeira de presidente da República. Ele poderá assumir a interinidade, se quiser, no próximo domingo, com o início de uma viagem de três dias do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Washington, que participará da Cúpula de Segurança Nuclear.

Os primeiros na linha sucessória, o vice José Alencar, e o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), avisaram que vão disputar as eleições de outubro e, portanto, não podem ocupar a interinidade da Presidência. Alencar, que no momento quer concorrer ao Senado por Minas Gerais, marcou uma viagem oficial a Montevidéu, para justificar a ausência do País. Temer, cotado para ser o vice na chapa da petista Dilma Rousseff à Presidência, ainda não definiu para onde irá durante a viagem de Lula. No Uruguai, Alencar terá encontro com o presidente José Mujica.

Sarney poderá assumir pela segunda vez a interinidade da Presidência da República. Em 21 de abril de 1985, na condição de vice-presidente, ele ocupou provisoriamente o governo por motivo de doença do presidente eleito indiretamente pelo Congresso Tancredo Neves. Com a morte de Tancredo e um acordo no parlamento, Sarney ficou cinco anos no Planalto.

Sarney gosta de dizer que entrou para a história como o presidente que, após uma ditadura de 21 anos, consolidou o processo democrático e afastou as pretensões dos militares de retomada do poder. Nos verbetes, Sarney costuma ser lembrado por problemas econômicos e políticos, como os planos econômicos desastrados, a hiperinflação, a moratória da dívida externa, o aumento do custo de vida e a performance de ministros polêmicos, como Jader Barbalho, citado nas denúncias de irregularidades na Sudam, e Antonio Carlos Magalhães, que ganhou fama por distribuir concessões de rádios para aliados.

Pelas previsões de viagens internacionais de Lula, Sarney poderá assumir até o final de julho a interinidade num total de 27 dias. Assessores do governo dizem que a volta à Presidência é um prêmio para o senador que queria encerrar a carreira política sem a marca dos escândalos dos atos secretos ano passado, revelados pelo jornal "O Estado de S. Paulo". Em julho, o jornal publicou conversas gravadas pela Polícia Federal, com autorização da Justiça, que mostram o filho de Sarney, o empresário Fernando Sarney, negociando cargos no Senado e participando de transações suspeitas envolvendo empresas e órgãos públicos. Fernando é apontado nas investigações da PF como chefe de uma organização criminosa, que atua em diversos estados. Há nove meses, Fernando conseguiu no Tribunal de Justiça do Distrito Federal que o jornal fosse proibido a divulgar informações sobre a Boi Barrica. Reportagens mostraram que, no comando do Senado, Sarney chegou a nomear até o namorado de uma neta.

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