
Entre os candidatos a vereador de Curitiba que mais têm recursos para a campanha, a maioria já atua na Câmara Municipal. Dos 17 candidatos que declararam receita superior a R$ 50 mil na última prestação de contas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 9 são vereadores. O campeão de arrecadação é o candidato à reeleição Luiz Felipe Braga Cortes (PSDB), com R$ 139,1 mil. O valor é superior ao declarado pelos candidatos a prefeito Fabio Camargo (PTB), Ricardo Gomyde (PCdoB), Bruno Meirinho (PSol) e Maurício Furtado (PV).
No outro extremo, 61 candidatos declararam não ter arrecadado nada até agora e outros 29 declararam ter recebido até R$ 500. As informações foram repassadas na segunda prestação de contas parcial ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Diante das diferenças nas quantias declaradas, a cientista política Luciana Veiga, da UFPR, afirma que há uma tendência mundial de quem já ocupa cargos em levar vantagem. Segundo ela, a vantagem acontece porque os eleitos já são conhecidos e demonstraram características pessoais favoráveis "Se têm mais chance, arrecadam mais e vice-versa." Luciana afirma que o candidato que não tem capital herdado nem prestígio familiar tem de apostar no apoio popular, como das associações de bairros e grupos de representação de classes, para ser eleito.
O candidato que mais obteve receitas, Braga Cortes, diz que contou com a doação de empresários. Dos R$ 139,1 mil que arrecadou, R$ 138 mil vieram de pessoas jurídicas. "Tenho trabalho feito. Evidente que isso facilita", afirma. "É mais difícil arrecadar na primeira eleição pelo fato do pouco conhecimento das pessoas, de não saberem tua motivação."
O presidente da Câmara Municipal, João Cláudio Derosso (PSDB), concorda que ser vereador ajuda a obter recursos. Entretanto, ele alega que amigos e parentes ajudam mais na arrecadação do que a influência política. Ele arrecadou R$ 52 mil, dos quais R$ 40 mil foram recursos próprios. "Às vezes é mais importante ter liberdade na hora de poder decidir, sem ficar atrelado aos patrocinadores."
Para o candidato à reeleição Jair Cezar (PSDB), não é o fato de ser vereador que facilita a arrecadação, mas o relacionamento pessoal. "Já sou vereador e nem por isso tenho facilidade de pedir doação porque meu mundo de relacionamento não é com empresários de grande porte. São colaboradores pessoais." Ele explica que o valor de sua prestação foi alto devido a três prédios que amigos lhe emprestaram para montar o comitê e veículos que colocaram à sua disposição. Segundo ele, os valores que ele teria pago de aluguel dos carros e imóveis foram lançados como doações nas contas de campanha, apesar de o vereador efetivamente não tê-los gastos. Dos R$ 110,9 mil de receitas, ele alega que R$ 73,4 mil foram em dinheiro.
Na última eleição municipal, de 2004, os vereadores eleitos de Curitiba foram exatamente aqueles que tiveram uma receita bem maior que a média dos candidatos, segundo a ONG Transparência Brasil. Enquanto a média de arrecadação dos eleitos foi de mais de R$ 60 mil, a média dos não-eleitos ficou em cerca de R$ 5,5 mil. Os 38 eleitos arrecadaram 61,4% do total declarado pelos 567 candidatos daquele pleito. (BMW)



