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Investigação

CPMI ganha sobrevida com a quebra de sigilo da empreiteira Delta

PT e PMDB se dividiram na votação e crise se instalou na base. Peemedebistas não queriam que as contas da construtora fossem abertas

Sessão da CPMI: maior empreiteira do PAC terá sigilo bancário, telefônico e fiscal quebrado | Jonas Pereira/Ag. Senado
Sessão da CPMI: maior empreiteira do PAC terá sigilo bancário, telefônico e fiscal quebrado (Foto: Jonas Pereira/Ag. Senado)

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Márcio Thomaz Bastos: questionamento sobre a origem do dinheiro com que Cachoeira contratou o ex-ministro |

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Márcio Thomaz Bastos: questionamento sobre a origem do dinheiro com que Cachoeira contratou o ex-ministro

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga as relações do bicheiro Carlinhos Cachoeira com políticos e empresários ganhou sobrevida. Deputados e senadores da comissão aprovaram ontem a quebra do sigilo bancário, fiscal e telefônico da construtora Delta em todo o país (a CPMI já havia aprovado a quebra dos sigilos da empreiteira apenas nos estados do Centro-Oeste). A decisão provocou um racha entre PT e PMDB na CPMI.

Com base nas informações obtidas com a quebra de sigilo, a comissão terá, a partir de agora, dados para poder se aprofundar na investigação do suposto esquema de corrupção montado por Cachoeira – a Delta é suspeita de participar da organização do bicheiro. Até então, a comissão havia centrado esforços em ouvir depoimentos dos acusados e testemunhas. Mas, como eles vinham evocando o direito de permanecer calados, a CPMI não havia avançado nada em relação às investigações da Polícia Federal. E a investigação parlamentar caminhava para o fim sem apurar algo significativo.

Megaempreiteira

A Delta é a principal empreiteira do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). No ano passado, recebeu R$ 862,4 milhões da União. No Paraná, em 2011 tocou 5 contratos do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) no valor total de R$ 130 milhões (25% dos R$ 487 milhões investidos pelo órgão federal no Paraná no ano passado).

Além disso, a construtora tem contratos com 18 dos 27 governos estaduais, que garantiram à empresa um faturamento de R$ 718,2 milhões em 2011 (o governo paranaense não teve contratos com a Delta no ano passado).

Embora o governo federal seja o que mais tem negócios com a Delta, o PT ontem apoiou a quebra dos sigilos da construtora. Já o PMDB – partido do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral – foi contra. Cabral tem relações estreitas com Fernando Cavendish, um dos sócios da empreiteira.

Sem acordo e sem os 17 votos para derrubar o requerimento, até mesmo os integrantes contrários à quebra de sigilo da empresa votaram a favor, para evitar serem expostos como protetores da Delta. "Não houve acordo e o melhor era não expor ninguém para não parecer uma disputa entre o governo e a oposição", argumentou o líder do PMDB na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (RN).

Curiosamente, o único voto contra a quebra de sigilo foi do deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP). Ele afirmou que mantinha a coerência. Há duas semanas, Vaccarezza foi flagrado mandando um torpedo de seu celular, durante a reunião da CPMI, para Sérgio Cabral. Na mensagem, o petista mostrava que o governador seria protegido na comissão.

Base estremecida

O racha entre PT e PMDB ficou tão evidente que já se especula que a parceria entre os dois partidos na comissão esteja ameaçada. A crise partidária deixa a CPMI sem unidade política na base – o que pode fazer com que a comissão ande, pois aumenta a chance de que passem outros requerimentos de informações que ajudem na investigação.

Nas primeiras horas após a aprovação do requerimento, deputados do PMDB acusavam os senadores do PT de romperem o acordo de evitar a quebra de sigilo da Delta. "Não vamos mais nos preocupar com o PT. Será cada um por si e Deus por todos", resumiu um peemedebista que pediu para não ter o nome divulgado. Parlamentares consideram que haverá revanche do PMDB contra o PT na comissão.

Votação da convocação de 3 governadores é adiada

Das agências

A CMPI do Cachoeira adiou ontem a votação de requerimentos para convocar três governadores suspeitos de ligação com o esquema do bicheiro: Marconi Perillo (PSDB-GO), Sérgio Cabral (PMDB-RJ) e Agnelo Queiroz (PT-DF). O presidente da CPMI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), disse que precisava de tempo para decidir sobre uma questão levantada pelo deputado Gladson Cameli (PP-AC) de que a CMPI não tem poderes para convocar governadores. A votação foi adiada para a próxima semana.

Apesar disso, o governador de Goiás, Marconi Perillo, se antecipou ontem e anunciou que quer depor na CPMI para se defender de acusações de envolvimento com o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Dizendo estar com "a tranquilidade dos justos", ele apresentou uma petição ao senador Vital do Rêgo e esclareceu que seu interesse é o de esclarecer sua atuação como governador e a lisura de seu governo. Perillo foi citado 237 vezes nas gravações telefônicas interceptadas pela Polícia Federal, que prendeu Cachoeira.

"Não raro o meu nome tem sido maldosamente veiculado na imprensa como relacionado ao suposto esquema que ora se apura. Então nada melhor do que vir a público em respeito aos eleitores do estado de Goiás, em respeito aos meus pares, à minha família e a todo brasileiro e brasileira que, por um segundo sequer, tenha intimamente colocado sob suspeição minha seriedade e minha respeitabilidade pública, para responder a questionamentos e rebater todas as falsas ilações criminosamente dirigidas contra mim", afirmou Marconi Perillo na petição.

No documento, o governador tucano relata sua trajetória política, desde os anos 1980, ao lado do ex-senador, governador de Goiás e ministro da Saúde no governo de Itamar Franco, Henrique Santillo (PMDB). Também reafirma ter-se colocado à disposição do Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, para esclarecimento sobre um suposto envolvimento dele e de auxiliares próximos de seu governo com Cachoeira.

O depoimento de Perillo deve colocar os demais governadores citados – Cabral e Agnelo – em situação delicada. Caso continuem a alegar inocência, não teriam por que não depor à CPMI, como quer fazer Perillo.

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