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Desconfiança familiar

Cresce em SP número de pais que procuram detetives para vigiar filhos

Os cerca de 500 detetives particulares que atuam em São Paulo estão sendo contratados para um novo tipo de tarefa nos últimos tempos. Seguir marido ou mulher e descobrir casos de infidelidade conjugal ainda continua sendo uma de suas principais atividades, mas cresceu na cidade o número de pais que procuram os detetives para vigiar os filhos. São pessoas preocupadas com consumo de drogas dos adolescentes e casos de homossexualismo.

- De uns cinco anos para cá, aumentou muito o número de pais aqui na capital que nos contratam para seguir o filho ou filha. Eles querem saber se os jovens, geralmente adolescentes, estão consumindo drogas ou até mesmo se mantêm relacionamentos homossexuais. A mudança de comportamento dos jovens é o primeiro motivo de desconfiança dos pais - diz o detetive Fabrício Dias, da agência Líder.

O trabalho desses investigadores é conhecer discretamente os amigos do jovem e os ambientes que ele freqüenta. Todos os passos do adolescente - como idas a bares, boates ou mesmo casas de amigos - são seguidos e registrados pelo profissional, em fotos e filmes. São usadas microcâmeras, binóculos com câmeras e até escuta telefônica nesse trabalho. O preço por uma semana de trabalho sai por cerca de R$ 3 mil.

Para não levantar suspeitas, a tática desses detetives é colocar um 'agente' da mesma idade na turma do adolescente vigiado. Os investigadores dizem que num prazo de uma semana já é possível fazer descobertas.

- Qualquer usuário de drogas vai usar o entorpecente no período de uma semana - afirma Eunice Marques dos Santos, da agência Apolo XI Investigações.

Em casos de homossexualismo, porém, a investigação pode ser mais complicada.

- Temos de ficar de campana, acompanhar o jovem nas baladas, saber se vai a boates gays, motéis, com quem anda - explica Dias, da Líder.

Eunice lembra de um caso na capital paulista em que o pai queria saber que tipo de relacionamento o filho de 15 anos mantinha com um homem de 40 anos.

- O menino chegava a dormir na casa do amigo, o pai resolveu nos chamar. Comprovamos que os dois tinham um relacionamento e o pai preferiu mudar de cidade para afastar o jovem dos amigos - conta.

De acordo com ela, se houver suspeitas sobre as companhias do jovem, os detetives também conseguem levantar a ficha completa dos amigos.

- Conseguimos saber se eles têm passagens pela polícia, de quem são os carros e os telefones usados - diz ela, acrescentando que todos os procedimentos são "informais".

Para o advogado Euclides de Oliveira, especialista em Direito da Família, a quebra de sigilo telefônico e de correspondência são práticas discutíveis, porque podem resultar em processos tanto para os detetives quanto para os pais.

- Um pai tem o direito e até o dever de saber onde estão os filhos, de acompanhá-los. Pode até checar se ele está nos lugares que afirma, mas apelar para os serviços de um detetive não me parece aceitável eticamente. Ainda mais sabendo que atos que beiram a ilegalidade podem ser cometidos para isso, como grampos de telefone e de mensagens eletrônicas. O melhor ainda é manter o diálogo aberto com os filhos - afirma Oliveira, que é presidente da seção paulista do Instituto Brasileiro de Direito da Família.

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