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Fachada da Delegacia da Receita em Curitiba: esquema no órgão pode ter movimentado R$ 38,4 milhões em 2014 nas delegacias da capital, Londrina e Maringá, diz o Gaeco. | Hugo Harada/Gazeta do Povo
Fachada da Delegacia da Receita em Curitiba: esquema no órgão pode ter movimentado R$ 38,4 milhões em 2014 nas delegacias da capital, Londrina e Maringá, diz o Gaeco.| Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo

A prisão de dezenas de pessoas na semana passada por suposto envolvimento no milionário esquema de corrupção na Receita Estadual ressuscitou o debate, na Assembleia Legislativa do Paraná, em torno da criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as denúncias. A bancada de oposição, porém, esbarra na dificuldade de coleta de assinaturas e na regra para o funcionamento simultâneo de CPIs na Casa. No melhor cenário, a apuração só sairia do papel no fim deste mês. No pior deles, apenas no fim de setembro.

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Segundo o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), braço do Ministério Público, o esquema na Receita pode ter movimentado R$ 38,4 milhões somente em 2014, nas delegacias de Curitiba, Londrina e Maringá. Na última quarta-feira (10), foram presos todos os auditores fiscais que ocuparam o cargo de inspetor-geral de fiscalização na Receita durante o primeiro mandato do governador Beto Richa (PSDB). O Gaeco aponta que o empresário Luiz Abi Antoun, parente distante do tucano e “eminência parda” do governo do estado, era o “chefe político” do esquema. Ele seria o responsável por arrecadar dinheiro de propina para a campanha eleitoral de Richa – o PSDB nega.

Missão difícil

Com as novas prisões, a reduzida bancada de oposição, que conta com seis deputados, voltou a defender a instalação de uma CPI para apurar as denúncias na Receita. As dificuldades para atingir o objetivo, entretanto, começaram a partir do dia 10 de março, quando os oposicionistas iniciaram a coleta de assinaturas para poder propor a criação da comissão. Passados mais de três meses, só conseguiram nove assinaturas. Para ser protocolada, uma CPI precisa de no mínimo 18 apoios.

É difícil. Todo mundo quer ser o 18º a assinar, quando o jogo já estiver ganho. Dizem que estão junto com a gente, que vão assinar, que só estavam esperando passar a greve dos professores.
Não sei se estão valorizando o
passe ou enrolando mesmo.

Requião Filho (PMDB). vice-líder da oposição da Assembleia Legislativa.

Continuo acreditando muito no trabalho do Gaeco. CPI é mais para divertir, para dar mídia, discursos, debates.

Luiz Claudio Romanelli (PMDB). líder do governo na Assembleia.

“É difícil. Todo mundo quer ser o 18.º a assinar, quando o jogo já estiver ganho. Dizem que estão junto com a gente, que vão assinar, que só estavam esperando passar a greve dos professores. Não sei se estão valorizando o passe ou enrolando mesmo”, lamenta o vice-líder da oposição, Requião Filho (PMDB). A esperança do peemedebista é que a recém-criada bancada “independente” apoie a ideia. Dos 14 parlamentares do grupo, 11 não assinaram o pedido de criação da CPI da Receita.

No entanto, ainda que a oposição consiga as assinaturas, a investigação teria de entrar numa fila de espera. Assim que os oposicionistas começaram a se articular para tirar a ideia do papel, em março, deputados aliados a Richa levaram menos de duas semanas para protocolar na Casa seis CPIs. De acordo com o regimento interno da Assembleia, somente cinco comissões podem funcionar simultaneamente. Ou seja, a da Receita seria a segunda da fila caso fosse apresentada agora.

Ainda assim, ela não começaria os trabalhos de imediato. Como o prazo para o funcionamento de CPIs pode se estender de três a seis meses, a de explosões de caixas eletrônicos e a da ocupação fundiária de Pontal do Paraná atuarão até o próximo dia 26 ou até 26 de setembro. Já as três que vêm na sequência aguardam há quase três meses a indicação de seus integrantes pelos partidos. A promessa da Assembleia é que isso ocorra nesta semana, e, só a partir da instalação formal de cada comissão, começaria a contar o prazo de funcionamento.

Profusão de CPIs

Veja as CPIs já apresentadas neste ano na Assembleia e que pularam na frente de uma eventual investigação sobre a corrupção na Receita Estadual. Somente cinco comissões podem funcionar ao mesmo tempo na Casa.

Já instaladas e
em funcionamento

Explosões de
caixas eletrônicos
(Felipe Francischini, SD)

Investiga atos criminosos em explosões de caixas eletrônicos e, também, a comercialização, transporte, manuseio e emprego de explosivos por empresas sediadas no Paraná.

Ocupação fundiária de Pontal do Paraná (Fernando Scanavaca, PDT)

Investiga possíveis irregularidades vinculadas a questões fundiárias e de ocupação em Pontal do Paraná.

Aguardando indicação dos integrantes de cada partido

Maus-tratos a animais (Mara Lima, PSDB)

Vai investigar maus-tratos e violência contra animais, criadouros clandestinos e venda irregular de animais.

Violência contra a mulher (Mara Lima, PSDB)

Vai investigar a ocorrência da violência contra a mulher no Paraná, para detectar os principais motivos, as formas de combate e auxílio às mulheres agredidas.

Cobrança ilegal de taxas de corretagem na construção civil
(Ricardo Arruda, PSC)

Vai investigar possíveis irregularidades de abuso de poder econômico praticado por construtoras, incorporadoras e imobiliárias na cobrança ilegal de taxas de corretagem, juros abusivos e atrasos injustificados aos compradores de imóveis no Paraná.

Esperando na fila

Contrabando
(Bernardo Carli, PSDB)

Pretende apurar os prejuízos na arrecadação de ICMS decorrentes da prática de contrabando no Paraná.

“Continuo acreditando muito no trabalho do Gaeco. CPI é mais para divertir, para dar mídia, discursos, debates”, defendeu o líder do governo, Luiz Claudio Romanelli (PMDB). Em março, ele afirmou que a apresentação de CPIs partiu da iniciativa própria de cada parlamentar, sem qualquer orientação dele ou do Palácio Iguaçu.

Proposta segue engavetada em Comissão

No dia 31 de março deste ano, já com seis CPIs protocoladas por deputados governistas na Assembleia Legislativa do Paraná, a oposição apresentou um projeto de resolução para instalar a comissão que pretende investigar irregularidades na Receita Estadual.

De acordo com o regimento interno da Casa, a única possibilidade de uma CPI ser criada enquanto outras cinco estiverem funcionando, é se o plenário aprovar um projeto de resolução liberando a instalação da comissão.

Desde que foi apresentada, porém, a proposta segue engavetada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). “Tudo que é contra o governo some na CCJ, nada anda. É uma coisa incrível, uma mágica que tem por lá”, critica o deputado Requião Filho (PMDB), vice-líder da oposição. (ELG)

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