
As crises política e econômica enfrentadas pelo governo Dilma dominaram os discursos dos políticos que participam nesta segunda-feira (10), no Recife, de uma cerimônia em homenagem ao ex-governador Eduardo Campos (1965-2014), que completaria hoje 50 anos.
Sem citar diretamente a petista, eles se dividiram entre as críticas ao governo e a defesa da Constituição e da democracia. Com um tom mais ameno do quem vem adotando nos bastidores, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) fez críticas indiretas.
“Os governos são circunstanciais, efêmeros, passageiros. Por maior ou menor tempo, eles se vão. Mas o Brasil não, ele está aí para ser construído, e será construído quando nós todos tivermos capacidade de olhar para o futuro, e não apenas para o dia de hoje”, disse o tucano.
“Se, em qualquer tempo e em qualquer país, o homem das qualidades, experiência e responsabilidade fazem falta, hoje no momento pelo qual o Brasil passa -e todos nós nos preocupamos cada vez mais com o futuro que está por vir-, a ausência de Eduardo se torna ainda maior e quase que insubstituível”, afirmou Aécio.
Em meio à maior crise política e econômica do governo Dilma, o PSDB divulgou na semana passada vídeos em que convoca a população para os protestos que estão previstos para o próximo domingo (16). Derrotado pela petista por margem estreita no segundo turno em 2014, Aécio tem defendido nos bastidores a renúncia de Dilma e do vice-presidente, Michel Temer (PMDB), com a convocação de novas eleições.
Representando o governo federal, o ministro Jaques Wagner (Defesa) usou o bordão criado por Campos para defender que o governo continuará “trabalhando” sem desistir do Brasil.
“Eduardo também enfrentou derrotas e vitórias, mas nunca desistiu porque quem trabalha por um ideal não desiste nunca. E por isso a frase dele de que não vamos desistir do Brasil, porque nós temos um trabalho”, disse o ministro. “Vamos construir, com altos e baixos, com divergências que são super bem-vindas na democracia, mas sempre colocando aquilo que é fundamental, o interesse do país, na frente”, afirmou o petista.
Wagner também aproveitou seu discurso para pedir conciliação e união para que a crise seja superada. “A verdade nunca está na cabeça de um só, a verdade está na construção coletiva”, disse. “Quem pensa diferente da gente não é inimigo. Ouvir para construir o consenso é o que vai nos levar adiante.”
O economista Paulo Rabello de Castro foi um dos que fizeram o discurso mais crítico. Disse que o governo “nos empurrou para a mais grave crise financeira autoinfligida nesse início de milênio”, enalteceu o governador Geraldo Alckmin (PSDB), também presente no evento, e conclamou o público a participar dos protestos.
Em uma indireta ao governo petista, disse que Campos “não fazia política da simulação, não fazia política da mentira, não fazia política da falsa euforia, tirando uma onda de desenvolvido quando nunca atingiu esse patamar”, disse.
Defesa
A ex-senadora Marina Silva (PSB), que assumiu a candidatura presidencial do partido após a morte de Campos, fez um discurso emocionada. Ao citar a crise política, ela clamou por justiça e pediu respeito à democracia e à Constituição.
“Nesse momento difícil que vive o Brasil, o que poderia nos levar a ser melhores e maiores? Com certeza olhar de baixo pra cima para ver o que está acima de nós. Acima de nós está o Brasil, acima de nós está a nossa democracia, acima de nós esta a nossa Constituição, acima de nós esta 220 milhões de brasileiros que querem um Brasil melhor”, afirmou.
“Todo país tem que ter uma base montada em dois princípios: a liberdade e a justiça. A liberdade porque é sobre a democracia que faremos qualquer construção duradoura, e a justiça porque ela é a métrica a medir todos nós”, disse.
Sem citar diretamente os escândalos de corrupção investigados na Operação Lava Jato, Marina também destacou a importância das instituições e disse que é preciso reconhecer quando há falhas.



