
Brasília - Em meio à onda de denúncias de corrupção atingindo vários órgãos federais, a presidente Dilma Rousseff teve ontem de demitir um ministro não devido a irregularidades, mas por causa de uma crise provocada por excessos verbais. Nelson Jobim, agora ex-ministro da Defesa, foi obrigado a pedir exoneração após ter dado uma entrevista à revista Piauí em que fazia críticas às ministras Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Ideli Salvatti (Relações Institucionais). O ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim foi convidado para a Defesa e aceitou. A posse ainda não tem data marcada.
Jobim é o terceiro ministro a cair em apenas sete meses de governo (os outros foram Antonio Palocci, da Casa Civil, e Alfredo Nascimento, dos Transportes).
Nas últimas semanas, Jobim vinha se desgastando ao dar declarações polêmicas que estavam desagradando Dilma, o PT e aliados (veja as frases ao lado). A gota dágua, porém, foi a entrevista cujo conteúdo foi divulgado ontem. "É muita trapalhada, a Ideli é muito fraquinha e Gleisi nem sequer conhece Brasília", disse Jobim, em trecho da reportagem da Piauí.
Jobim negou ter feito a afirmação contra as ministras, que são da cota pessoal de Dilma. Disse que tudo fazia parte "de um jogo de intrigas". "Em momento algum eu fiz referência dessa natureza", disse ele. Já em nota publicada na página do Ministério da Defesa na internet, Jobim disse que a declaração foi tirada do contexto.
A revista informou que a polêmica frase foi dita, na frente da repórter que preparava um perfil de Jobim, ao senador Fernando Collor (PTB-AL). Collor havia sido procurado por Jobim para negociar o projeto de lei que libera a divulgação de documentos secretos.
Sem sensibilizar
Os argumentos de Jobim, porém, não sensibilizaram a presidente Dilma Rousseff. Durante almoço com os ministros Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral), Gleisi, Ideli e Helena Chagas (Comunicação), Dilma disse que tinha tomado a decisão de demiti-lo.
A presidente, então, ligou para Jobim, que estava em Tabatinga (AM) para um evento oficial, o lançamento do plano de segurança nas fronteiras, em solenidade conjunta com o vice-presidente da Colômbia, Angelino Garzón . "Ou você pede para sair ou saio com você", disse Dilma, segundo pessoas que ouviram a conversa. A presidente, então, aguardou a volta de Jobim a Brasília para encontrar-se com ele e anunciar o novo ministro.
Na carta de demissão, Jobim disse que estava se exonerando "por razões pessoais e de forma irretratável". O texto se encerra dizendo que "foi uma honra ter servido à senhora [Dilma] e a seu governo. Seja feliz".
Cria de Lula
Jobim era mais um ministro herdado da administração do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, assim como Palocci e Alfredo Nascimento. Fiador de Jobim no governo Dilma, o ex-presidente Lula disse ontem que, se forem verdadeiras, suas declarações "criam uma situação constrangedora". E comparou Jobim com Pelé: "Jobim é o homem que tem conduzido o Ministério da Defesa com muita grandeza. Um trabalho excepcional. Mas, se até o Pelé não estiver jogando bem, o técnico tira".
Amorim desagrada ala do PMDB e militares
A nomeação de Celso Amorim para o Ministério da Defesa tem potencial de criar dois problemas para a presidente Dilma Rousseff: um com os militares e outro com uma parte do PMDB.
Militares dos altos comandos das Forças Armadas consultados ontem pela reportagem consideraram Amorim uma escolha ruim, principalmente em função de suas posições ideológicas à esquerda. Segundo eles, Amorim contrariou "princípios e valores" das Forças Armadas nos últimos anos, quando esteve à frente do Ministério das Relações Exteriores, durante o governo Lula.
Base melindrada
A indicação de Amorim, que é filiado ao PT, também pode criar atritos com o PMDB, o principal partido da base aliada de Dilma no Congresso. O ex-ministro Jobim é peemedebista. E, embora a legenda não o considerasse como um ministro da cota do partido, por ter sido uma indicação de Lula a Dilma, o fato é que o PMDB esperava ganhar a pasta.
Ontem, alguns peemedebistas falavam que o partido não reivindicaria a indicação do substituto de Jobim. Para o cargo, segundo eles afirmaram à reportagem, deveria ser indicado um nome da escolha pessoal da presidente.
Apesar disso, outra ala do PMDB já se articulava ontem para emplacar o nome do atual ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), Wellington Moreira Franco, como substituto de Nelson Jobim. Essa articulação envolveria, segundo fontes ouvida pela reportagem, o vice-presidente Michel Temer, Moreira Franco e o próprio Jobim.



