
Liderada pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a ala do PMDB que prega o rompimento definitivo com o governo ganhou corpo com a decisão do vice-presidente Michel Temer de deixar o “varejo” da articulação política da gestão Dilma Rousseff. Cunha defendeu que o partido adiante o congresso nacional de novembro e antecipe a decisão sobre o possível afastamento total. Para o parlamentar, Temer foi “sabotado” durante o período em que assumiu as negociações políticas.
O vice-presidente era responsável, desde 10 de abril, pelas tarefas da Secretaria de Relações Institucionais (SRI) da Presidência da República. O órgão tem status de ministério e cuida do relacionamento do governo com parlamentares. Defende as propostas consideradas prioritárias para o governo no Legislativo, mas concentra as demandas por liberação de recursos e cargos feitas pelos congressistas.
“A saída dele [Temer] da articulação é um bom sinal. E eu estou defendendo que o congresso do PMDB seja adiantado, para a gente discutir a possível saída do PMDB do governo”, disse Cunha ao jornal Folha de S.Paulo, após visita à Assembleia Legislativa de São Paulo. Antes dele, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), já havia criticado o papel exercido pelo vice-presidente – declarou em maio que o PMDB não poderia ser transformado em “coordenador de RH” do Planalto. Há três semanas, no entanto, Renan iniciou um processo de reaproximação de Dilma.
Cunha rompeu com o governo há um mês, após divulgação do depoimento do ex-consultor da empresa Toyo Setal, Júlio Camargo, que acusou o presidente da Câmara de receber US$ 5 milhões em propina desviada da Petrobras. Na semana passada, foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República ao Supremo Tribunal Federal pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
“É um erro achar que essa história de deixar o governo é só do Eduardo, por problemas dele. Logo depois da notícia da saída do Temer, vários colegas comemoraram e disseram que esse era o primeiro passo para um rompimento definitivo do partido com a gestão Dilma”, descreveu o coordenador da bancada federal do Paraná, João Arruda (PMDB). Outros dois peemedebistas paranaenses, Sérgio Souza e Osmar Serraglio, confirmaram a ascensão do grupo contrário à presidente.
“Fica difícil para o PMDB dar sustentação a um governo impopular se ele não é nem tratado como parte desse governo”, defendeu Serraglio. “Aconteceu num momento conturbado, mas já era esperado. O Temer indicava que estava cansado desse trabalho”, declarou Souza.
O vice-presidente se afastou da SRI, mas se dispôs a continuar sendo o articulador do governo em questões macropolíticas. A tendência é que ele se dedique apenas à relação entre poderes, mas permaneça fora de todas as negociações político-partidárias do cotidiano do Congresso. “Quem leu a decisão de ontem como um rompimento está enganado, o trabalho continua sendo feito, mas em outras esferas”, avaliou o chefe de gabinete da SRI e presidente do PMDB-PR, Rodrigo Rocha Loures.



