Em setembro do ano passado, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu tirar das mãos do juiz Sergio Moro parte dos processos da Lava Jato, houve grandes questionamentos sobre a possibilidade de enfraquecimento da operação. Na ocasião, o STF enviou para São Paulo as investigações referentes ao esquema de propina no Ministério do Planejamento, envolvendo a senadora paranaense Gleisi Hoffmann (PT) e seu marido, o ex-ministro Paulo Bernardo.
Confira a distribuição geográfica dos “filhotes” da Lava Jato
Mesmo depois de nove meses de investigações para, só então, deflagrar a Operação Custo Brasil, que acabou prendendo Bernardo, a força-tarefa paulistana da Lava Jato fez questão de rebater às dúvidas da época. “É a resposta àqueles que celebraram com champanhe o declínio do caso de Curitiba. Para mostrar que, na verdade, não é só Curitiba que faz essa investigação, o que faz muito bem”, disse o procurador Andrey Borges de Mendonça.
Pelo jeito, a vontade de responder aos descrentes tem movimentado os ânimos da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público Federal (MPF) em mais estados. Desde que outros braços da investigação foram desmembrados, além da Custo Brasil - que investiga desvios de crédito consignado na pasta do Planejamento - , ocorreram ao menos outras quatro operações ligadas a Lava Jato: Crátons, em Rondônia; O Recebedor, em Goiás; Turbulência, em Pernambuco; e Saqueador, no Rio de Janeiro.
Nesta quinta-feira (30), inclusive, a PF de Goiás estendeu a ampliação da O Recebedor ao deflagrar a Operação Tabela Periódica, que apura um esquema de corrupção em obras de ferrovias federais e investiga, entre outras empresas, a paranaense CR Almeida. Ainda nesta quinta, foi preso pela PF do Rio de Janeiro, na Operação Saqueador, o empresário Adir Assad, que já cumpria pena domiciliar após condenação na Lava Jato. Ele teria montado empresas de fachada para lavar dinheiro desviado do esquema.
No início do mês, o procurador do MPF paranaense Carlos Lima já havia adiantado que a aparente “estagnação” da operação em sua raiz não quer dizer que novas investigações, em outros âmbitos da administração pública, não poderiam se desenvolver. “O que tiver aqui e não for nosso, vão gerar ‘filhotes’ da Lava Jato por todo Brasil. A operação vai perder força pela natureza das coisas, mas não quer dizer que outras investigações não ocorram”, disse.
“Filhotes”
No caso da operação pernambucana, por exemplo, a investigação não nasceu da Lava Jato, mas passou por ela. A suspeita partiu de movimentações financeiras de empresas ligadas a aeronave que transportava o ex-governador de Pernambuco e então candidato à Presidência, Eduardo Campos, em seu acidente fatal. A PF percebeu, então, que se tratavam de empresas de fachada, que realizavam transações com outras investigadas no Paraná.
Já a O Recebedor, que também cumpriu mandados em Curitiba, foi deflagrada a partir de elementos colhidos nos acordos de leniência e delação premiada da Camargo Corrêa. Seriam cerca de R$ 630 milhões em desvios entre 2006 e 2011 somente em Goiás, segundo a PF. A investigação gera ainda mais expectativa sobre o possível acordo da empreiteira Odebrecht, onde foi apreendida a famosa “planilha” com nomes de ao menos 300 políticos.
Há ainda uma operação quase esquecida, deflagrada em dezembro do ano passado em Rondônia. A Crátons apura o envolvimento de empresários, advogados, comerciantes, garimpeiros e até indígenas na exploração ilegal de diamantes. O doleiro Carlos Habib Chater, um dos primeiros presos da Lava Jato, seria um dos financiadores do garimpo, e as apurações sobre as condutas dele levaram os investigadores até o esquema.



