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Perfil

José Dirceu foi preso como líder estudantil e se exilou em Cuba

Mineiro de Passa Quatro e formado em Direito pela PUCSP, José Dirceu foi líder estudantil entre 1965 e 1968. Em 1968 foi preso pela ditadura militar durante a organização do 30º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE). No ano seguinte, foi deportado para o México junto com 14 presos políticos em troca da liberação do embaixador dos EUA no Brasil Charles Burke Elbrick, que havia sido sequestrado por militantes de esquerda. Dirceu foi um dos mentores das chamadas "Dissidências" ou "DI-SP", organização que tinha grande afinidade com o grupo de Carlos Marighella e que, mais tarde, viria se tornar a Ação Libertadora Nacional. Ficou exilado em Cuba, fez plásticas e mudou de nome para não ser reconhecido durante as tentativas de voltar ao Brasil.

Em 1980, ajudou a fundar o PT e foi presidente do partido durante a década de 1990. Elegeu-se deputado estadual de São Paulo e deputado federal. Em 2003, foi nomeado ministro da Casa Civil no governo Lula. Deixou o cargo em 2005 por ter sido acusado de ser o mentor do mensalão. Dirceu teve o mandato de deputado cassado.

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Trajetória

Genoino participou da Guerrilha do Araguaia e foi torturado

Nascido em Quixeramobim (CE), José Genoino foi líder estudantil pela UNE, filiando-se ao PCdoB em 1968. Dois anos depois, foi para Goiás para lutar na Guerrilha do Araguaia, um dos principais movimentos para difundir o socialismo no Brasil. Em 1972, foi preso e torturado por militares. Após sua prisão, foi acusado de ter colaborado com o Exército. Foi libertado em 1977, quando começou a dar aulas de História.

Junto com José Dirceu, ajudou a fundar o PT. Elegeu-se por diversas vezes para o cargo de deputado federal, cargo que exerceu entre os anos 1980 e 2000. Em 2002 foi candidato ao governo de São Paulo, mas não venceu. No início do governo Lula, Genoino foi indicado para assumir o Ministério da Defesa, mas seu nome foi rejeitado. Sucedeu Dirceu na presidência do partido e, em 2005, renunciou ao cargo por estar envolvido nas denúncias do mensalão. Um ano depois, ao ser eleito novamente como deputado federal, passou a contar com foro privilegiado.

Com trajetórias políticas na luta contra a ditadura militar, na fundação do PT e na ascensão do partido à Presidência, os dois Josés – Dirceu e Genoino – acabaram condenados na última semana pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por envolvimento no mensalão, esquema de corrupção que angariou apoio político para o governo petista no Congresso. Segundo especialistas, a condenação deles é um marco na história do país justamente por atingir dois personagens que, para a esquerda brasileira, foram heróis. Simbolicamente, significa que nem mesmo os vultos históricos estão acima das leis.

Durante o julgamento de Dirceu e Genoino, a ministra Carmem Lucia, do STF, fez referência à história dos petistas antes de votar. "O juiz, infelizmente, não julga histórias, porque as histórias às vezes são feitas de desvios que seriam impensáveis de serem praticados em outra circunstância. Não estamos julgando a história de pessoas que, em diversas ocasiões, tiveram vidas retas", disse.

Análise

"O julgamento é um fato histórico em si, inédito no país", diz o cientista político Wilson Ferreira da Cunha, da PUCGO. "O que é importante é que eles foram declarados culpados perante toda a sociedade", diz Roberto Romano, professor de ética e filosofia política da Unicamp. "Para uma pessoa que tem um passado reto, esse é o pior julgamento, a pior pena que pode ocorrer. Além disso, a reprovação popular é um castigo violento", acrescenta Romano.

Para os especialistas, a condenação não representa necessariamente o esquecimento das lutas de Genoino e Dirceu pelo fim da ditadura. Mas marca um erro cometido pela fidelidade ao partido. "Eles fizeram da política uma religião – tanto que vão enfrentar a cadeia [se forem sentenciados à prisão] como se fosse mais um trabalho para o partido. Eles fazem tudo pelo partido, inclusive roubar os cofres públicos", afirma Cunha. "É preciso conhecer a lógica do militante, que é aquele que diz: 'Errado ou certo, é meu partido'. Quando existe uma ideo­logia de partido, ela relativiza todos os outros elementos que, para outros partidos e outras pessoas, são essenciais", complementa Romano.

Cunha ainda afirma que o mensalão é fruto uma desvirtuação da ideologia petista quando Lula chegou à Presidência, em 2003. "O partido se desvirtuou da sua ideia inicial e tornou-se pior que a oligarquia política brasileira. Eles profissionalizaram tanto a política que o discurso virou de obediência, não mais de diálogo, como era antigamente. O PT acabou inaugurando uma nova fase na corrupção brasileira."

Fundador do PT defende história de Dirceu e Genoino

Companheiro de José Dirceu e José Genoino na luta contra a ditadura militar e na fundação do PT no Paraná, o advogado Vitorio Sorotiuk minimiza as consequências do julgamento do mensalão e defende a história política dos petistas. "O homem é um processo de acerto e erros", diz ele. "Não existe ninguém que não tenha errado na vida como, por exemplo, quando comete uma infração de trânsito. E isso não pode acabar com toda a história de vida do indivíduo."

Para o historiador Lafaiete Neves, que também participou ativamente dos movimentos de base esquerdista em Curitiba, é preciso fazer uma reflexão mais profunda sobre o julgamento do mensalão, que vai além do crime de corrupção.

"Isso não é particularidade do PT", diz Neves. "Entrar no processo eleitoral que nós temos significa enfrentar forçar econômicas muito poderosas. Para chegar ao poder, não basta só o idealismo, a garra e a boa vontade dos militantes. Tem de entrar nesse sistema de poder já organizado na Lei Eleitoral e acabar fazendo alianças que acabam desvirtuando os partidos políticos." Neves afirma que foi justamente essa "desvirtuação" ideológica do PT, já anterior ao mensalão, que o levou a se afastar do partido.

Raízes tucanas

Neves e Sorotiuk lembram ainda que o mensalão teve suas raízes no PSDB, na campanha para a eleição do tucano Eduardo Azeredo para o governo de Minas Gerais, em 1998. Eles criticam a falta de exposição desse caso. "Isso [o julgamento do mensalão] é uma parte do seriado que pegou o PT, mas ainda existe a parte do PSDB que vai ser julgada", aponta Sorotiuk. "Eu acho uma falsidade o pessoal do PSDB e do DEM cobrar por um julgamento do PT, sendo que a prática deles é a mesma", complementa Neves.

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