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Presidente Michel Temer (PMDB), fragilizado pelo crise econômica e escândalos envolvendo ministros, precisa mostrar que tem condição de se firmar até 2018 | Marcos Corrêa/PR
Presidente Michel Temer (PMDB), fragilizado pelo crise econômica e escândalos envolvendo ministros, precisa mostrar que tem condição de se firmar até 2018| Foto: Marcos Corrêa/PR

O fim deste 2016 de crises profundas é esperado ansiosamente por muitos. No entanto, como os fatos ignoram o calendário gregoriano, as dificuldades econômicas, a crise entre Legislativo e Judiciário e, sobretudo, as delações da empreiteira Odebrecht, no âmbito da Operação Lava Jato, já anunciam um 2017 com muitas tempestades.

Os poucos trechos da colaboração premiada da Odebrecht que já vieram a público justificam, com louvor, o epíteto de “delação do fim do mundo”. As 82 páginas jogam a crise no gabinete presidencial, na cúpula da Câmara e do Senado, no partido do governo e ainda respingam em políticos importantes de muitas outras legendas.

Saiba mais: 2016, o ano que condensou todas as crises

Qual um boxeador que suplicava o soar do gongo e finalmente chega ao corner, os congressistas estão neste momento festejando o início do recesso parlamentar, que lhes permitirá se ausentar de Brasília, evitar os holofotes e reorganizar suas estratégias de defesa.

Estas férias, no entanto, têm tudo para serem diferentes. De imediato, o presidente Michel Temer, já fragilizado pela crise econômica e pelos escândalos envolvendo ministros próximos, precisará mostrar que tem condição de se confirmar como a “pinguela” até 2018. Mas é difícil que consiga desempenhar este papel se as denúncias que batem à sua porta entrarem em seu gabinete.

Seu problema central é o envolvimento de dois de seus melhores amigos: o ministro Eliseu Padilha e o advogado José Yunes, que pediu demissão do governo na última semana. Dada a intimidade que tinha com ambos, dificilmente Temer poderá usar com eles a estratégia de entregar os anéis para preservar os dedos. Se verdadeira a delação, ainda pendente de provas e homologação, o que está sendo dito é que Padilha e Yunes eram os próprios dedos de Temer junto à Odebrecht.

No Congresso, até agora principal lastro de estabilidade para o Planalto, o equilíbrio prometido para 2017 corre risco. O líder do PMDB, Eunício Oliveira, favorito para presidir o Senado, foi acusado de completar a trinca que comandava as negociações de medidas provisórias, ao lado de Renan Calheiros e Romero Jucá.

Na Câmara, o centrão tenta impedir no Supremo Tribunal Federal que Rodrigo Maia seja reconduzido à presidência da Casa. A Corte ainda terá de resolver outras questões que podem gerar atritos entre os Poderes: se a decisão do ministro Luiz Fux, de anular a votação do pacote anticorrupção, deve prevalecer e se qualquer réu pode ocupar as presidências das Casas e figurar na linha sucessória da Presidência da República.

Somam-se a este cenário turvo a resistente crise econômica e o processo que pode anular a eleição da chapa Dilma-Temer no TSE. Assim, este 2017, ainda prestes a nascer, já promete rivalizar com 2016.

2016: o ano que condensou todas as crises

O ano é 2016, mas pode somar 1984, 1992, 1993, 2005, 2006... Cada um desses anos protagonizou momentos políticos que impactaram a vida nacional: a mobilização de rua das Diretas Já; o impeachment de um presidente da República, Fernando Collor; escândalos de corrupção com citação de dezenas de parlamentares, como Anões do Orçamento e os Sanguessugas; e a queda de um presidente da Câmara dos Deputados. Sozinho, 2016 repetiu todos esses episódios e um pouco mais: repetiu a claudicante economia da segunda metade dos anos 1980, a década perdida da gestão José Sarney

Os 12 meses de 2016 estão vendo esses episódios se repetirem, nesse curto espaço de tempo, e um se sobrepondo ao outro. A presidente Dilma Rousseff sofreu o impeachment; Eduardo Cunha teve de deixar a presidência da Câmara, além de ter seu mandato cassado; a Operação Lava Jato atingiu em cheio 42 parlamentares, e espera-se que mais de uma centena ainda sejam envolvidos na delação da Odebrecht; os brasileiros foram às ruas manifestar contra e a favor de Dilma Rousseff e de medidas do Congresso; e a economia patina, com PIB em queda e desemprego em alta.

O deputado Miro Teixeira (Rede-RJ) tem um entendimento peculiar de 2016. Diz que ele não pode ser “injustiçado” e o classifica como o ano da revelação. Miro diz que o país será outro a partir de agora, melhor.

“Esse 2016 não deve ser colocado num museu para visitação. Mas tem que ser um fator de estímulo e de grandes transformações. Veja só, nossa democracia ainda é um desejo. Dos quatro presidentes eleitos pós-regime militar, dois deles não completaram seus mandatos. E temos um terceiro (Temer) balançando. Mas as instituições estão funcionando. Daqui para a frente, o Brasil só melhora”, afirmou Miro Teixeira.

Para o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), 2016 foi um “polo de condensação” de tudo que ocorreu no passado. “Se é fato que a História se repete como farsa ou tragédia, essa aqui se repetiu como uma tragédia. Juntou tudo em um ano só. Está sendo traumático. Crises políticas, dois impeachments, escândalos de corrupção, caso da pasta rosa, mensalão, o petrolão. Mais a desagregação partidária e a descrença na política. Esse somatório torna 2016 um ano muito pesado. Agora é preciso trabalhar para que 2017 seja portador de mais esperança”, disse Chico Alencar.

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