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queda de braço

Delegado da Lava Jato diz que Janot tenta “tolher investigações” da PF

Polícia Federal cobrou explicações do procurador-geral da República sobre o pedido para suspender depoimentos que seriam tomados no STF

Algacir Mikalovski, presidente do sindicato dos delegados da PF no Paraná: policiais federais deslocados para Curitiba estão há dois meses sem receber diárias. | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Algacir Mikalovski, presidente do sindicato dos delegados da PF no Paraná: policiais federais deslocados para Curitiba estão há dois meses sem receber diárias. (Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo)

Em mais um capítulo da queda de braço entre Polícia Federal (PF) e Ministério Público Federal (MPF), o delegado Eduardo Mauat da Silva, um dos responsáveis pela condução da Operação Lava Jato, acusou o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de tentar “tolher as investigações da PF”.

O delegado cobrou explicações públicas de Janot sobre o pedido de suspender depoimentos que seriam tomados no Supremo Tribunal Federal (STF) esta semana, com o objetivo de “redefinir estratégias” do caso. O pedido foi acatado pelo relator do caso, ministro Teori Zavascki. A expectativa é que os depoimentos só sejam retomados na próxima semana.

A medida deve atrasar os trabalhos nos processos relacionados a 40 políticos e operadores que estão sendo investigados no Supremo por suposto envolvimento em desvios na Petrobras. Entre os investigados estão os presidentes da Câmara Federal, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

“Se ele [Janot] não se explicar, vai ficar em uma situação complicada, porque é um cargo político, ele foi indicado pelo governo”, disse Mauat. Ao ser perguntado se poderia haver uma tentativa de asfixiar as investigações para beneficiar parlamentares, o delegado foi evasivo. “Não sei. Mas se querem, estão no caminho certo”, afirmou.

Mauat citou ainda que o relacionamento entre a PF e o MPF no Paraná é “muito bom”. “Por isso as coisas estão funcionando”, disse ele. “Por que as coisas aqui andam e lá [no Supremo] não andam? Os parlamentares já estão presos aqui”.

Agentes sem diárias

Para Mauat, um dos motivos que denotam falta de interesse do Executivo na continuidade das investigações seria a limitação orçamentária. Segundo o delegado, os policiais federais deslocados de cidade para atuar na Lava Jato estão há dois meses sem receber diárias, de cerca de R$ 200 por dia. “Você pode matar uma operação se tirar os recursos dela”, afirmou o delegado.

De acordo com o presidente do sindicato dos delegados da PF no Paraná, Algacir Mikalovski, o valor corresponde a cerca de 25% do que recebe um promotor de Justiça. Mauat, que é locado em Porto Alegre (RS), diz não receber diárias há pelo menos 60 dias. Ainda de acordo com Mikalovski, os cortes no orçamento da PF são “contínuos”.

Ministério Público

Em nota, a Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) afirmou que as investigações da Lava Jato no âmbito do Supremo são de competência do MPF. A entidade diz que essa titularidade “não será turbada por demandas e insatisfações de cunho meramente corporativo”. O MPF ainda não se manifestou oficialmente sobre o assunto.

Horas depois das críticas lançadas pela PF, o Ministério Público do Paraná realizou uma mesa-redonda para tratar sobre crimes de corrupção. O embate com a PF não foi abordado diretamente, mas o procurador-geral do estado, Gilberto Giacoia, comentou que sociedade é a única que perde com a medida de forças. “Tem que se utilizar as estruturas públicas a favor da sociedade. Essas divergências já deveriam estar superadas”, disse. “Se o MP toma iniciativa, não tem porque a polícia se sentir invadida”.

História conturbada

O Ministério Público Federal (MPF) e a Polícia Federal historicamente travam disputas com relação a competências em investigações. A situação se agravou em 2013, quando a PF encampou um projeto que tramitava no Congresso Nacional e tentava retirar poder de investigação do Ministério Público. O projeto foi arquivado após a repercussão do caso e as manifestações de junho daquele ano, que levaram multidões às ruas para protestar contra a corrupção no país.

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