
Um novo tumulto marcou a sessão de ontem da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, presidida pelo pastor Marco Feliciano (PSC-SP). Desta vez, o parlamentar chamou a Polícia Legislativa para conter os manifestantes que já haviam impedido a realização de outras duas reuniões da comissão. Um militante que chamou Feliciano de "racista" foi preso por determinação do próprio deputado. Houve confrontos e os policiais usaram força para conter o protesto. A sessão acabou sendo transferida para uma sala sem a presença dos manifestantes o que foi classificado pelo deputado como "exemplo de democracia".
A prisão ocorreu minutos depois de Feliciano abrir os trabalhos da comissão. O manifestante detido foi o antropólogo Marcelo Reges Ferreira. "Aquele senhor de barba... Chama a segurança. [Ele] me chamou de racista. Racismo é crime. Eu quero que ele saia preso daqui", disse o deputado aos policiais.
Os militantes contrários a Feliciano tentaram impedir a saída do colega e o abraçaram. Mas ele foi levado por vários policiais para o departamento de Polícia da Câmara. Outro manifestante, o servidor público Allyson Rodrigues, também foi detido. Os dois foram liberados após serem ouvidos na sala da Polícia da Câmara. Outras pessoas que protestavam foram imobilizadas por policiais da Casa, que passaram o braço em torno do pescoço de manifestantes, a chamada "gravata".
"Pode gritar"
Do lado de dentro da sala em que a reunião ocorria, a situação continuava tensa, com militantes contrários e a favor de Feliciano discutindo. O parlamentar reiterou que não irá sair do cargo. "Vou pedir para os manifestantes que mantenham a calma. Não vou ceder à pressão. Pode gritar, pode espernear", disse.
Um jornalista que acompanhava a sessão questionou Feliciano se o momento era adequado para manter a agenda da comissão. O deputado respondeu de forma ríspida: "Essa é uma pergunta estúpida". Feliciano também acusou a imprensa de ultrapassar os limites. "Estou aqui por um assunto sério e vocês estão de brincadeira", disse. Segundo ele, os jornais estão criando uma falsa sensação de crise na comissão. "O que está em crise são vocês, falando besteiras e coisas que não existem."
A sessão acabou sendo transferida para outra sala, na qual a entrada dos manifestantes não foi permitida pela polícia. Nesse espaço, sem protestos, a sessão durou cerca de duas horas e houve um debate sobre a contaminação de pessoas por chumbo na cidade de Santo Amaro da Purificação, na Bahia.
Ainda durante a sessão sem a presença dos manifestantes, Feliciano comemorou. "Me sinto realizado. Democracia é isso. Talvez seja preciso tomar medidas, não austeras, mas necessárias [para realizar as sessões]", afirmou o deputado do PSC durante a audiência.
Apoio
O PSC reforçou ontem o apoio a Feliciano para que ele permaneça na presidência da comissão apesar do apelo da maioria dos líderes partidários da Câmara para que ele saia. "Gostaria que os líderes respeitassem a vontade da minha bancada", disse o líder do PSC, André Moura (SE). No acordo de divisão dos cargos nas comissões da Casa, coube ao partido de Feliciano indicar o presidente do órgão que trata dos projetos de direitos humanos e minorias.
Moura ainda questionou o PT pelas indicações feitas para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Os petistas indicaram para a CCJ, a comissão mais importante da Casa, os deputados José Genoino (SP) e João Paulo Cunha (SP), condenados no processo do mensalão.



