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Investigação

Demóstenes preservou funcionário fantasma do Senado

Em conversa gravada pela Polícia Federal, senador do DEM diz ao contraventor Carlinhos Cachoeira que terá de demitir dois servidores para recontratá-los posteriormente

Além de colocar o mandato a serviço do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) tentou ludibriar a fiscalização da contratação de servidores fantasmas no Senado. Em uma das conversas gravadas pela Polícia Federal na Operação Vega, Demóstenes diz ao contraventor que terá de demitir dois servidores e depois recontratá-los. O motivo seria escapar das denúncias de desvio de dinheiro por meio da contratação de assessores fictícios. Acusado de chefiar a exploração ilegal de caça-níqueis, Cachoeira está detido no presídio de segurança máxima de Mossoró (RN).

Devido a esta e outras acusações, o Supremo Tribunal Federal abriu inquérito criminal contra o senador e outros parlamentares na quinta-feira (28). A conversa foi interceptada às 15h51m do dia 12 de maio de 2009. Depois dos cumprimentos habituais, em que se tratam de Doutor (Demóstenes) e Professor (Cachoeira), o senador vai direto ao ponto que interessa ao colega.

"Estão aqui nos gabinetes procurando servidores fantasmas. Você entendeu? Então, para evitar problema, no futuro a gente volta a resolver isso aí, falou?", diz o senador.

Naquele momento, senadores estavam às voltas com denúncias de atos secretos e contratação de servidores fantasmas. Publicamente, o senador defendia a faxina ética e criticava duramente o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Mas, na conversa com o contraventor, Demóstenes classifica a fiscalização de "caça às bruxas" e dá a receita para burlá-la.

"Caça às bruxas aqui. Mas daqui a uns dois, três meses a coisa aquieta e a gente retorna, falou?", diz ele. Cachoeira, o "Professor", endossa a trama. "O.K., Doutor", responde.

Uma das supostas funcionárias foi identificada como Kênia. O advogado Antônio Carlos de Almeida Castro negou que Demóstenes tenha feito contratações irregulares. "Não existe funcionário fantasma. Ela (Kênia) trabalha em Goiás, mas não tenho certeza", disse Castro.

Demóstenes e Cachoeira também acertaram a divulgação de um dossiê com vídeos e fotos para a imprensa. Mas não mencionaram qual seria o conteúdo do dossiê. As gravações mostram ainda Demóstenes e o sargento Idalberto Matias, o Dadá, falando da estratégia de divulgação de dados para a imprensa. Ex-araponga da Aeronáutica, Dadá também foi preso por envolvimento com a organização de Cachoeira.

"Como é que foi a conversa aí?", pergunta Cachoeira. - Ótima. Na semana que vem, já falei com o repórter. Ele vem, o rapaz entrega tudo a ele : relatórios, nomes, fotografias, filmagens, sob o compromisso de não aparecer - diz Demóstenes. Demostenes e Cachoeira usavam rádios Nextel, habilitados nos Estados Unidos, para manter conversas secretas. Ao longo da investigação, a polícia descobriu que podia interceptar as ligações desses aparelhos.

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