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Depois da lista, chega a hora das provas

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Qualquer lista sem Renan Calheiros e Eduardo Cunha será uma coroa sem brilhantes. Por mais que esse tipo de revelação estimule sentimentos e satisfações, listas sem provas valem nada. O processo dos marqueses do foro especial será confuso e demorado. Já o do juiz Sérgio Moro, em Curitiba, será rápido e até simples. Nele há 15 cidadãos colaborando com a Viúva na exposição das propinas passadas por empreiteiras a burocratas e políticos. Essa ponta da questão parece elucidada. Foram rastreadas transferências de dinheiro para o círculo de relações do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. Ele diz que foi um empréstimo amigo. A ver. No caso dos marqueses do foro especial, ainda não se conhecem as trilhas do ervanário. Sem elas, pode-se caçar bruxas, mas não se pode levá-las ao fogo.

Percebe-se a essência da tarefa do ministro Teori Zavascki recuando-se para 2007. O senador Renan Calheiros tivera uma filha fora do casamento, e a namorada tinha contas pagas pela empreiteira Mendes Júnior. Sustentando que dispunha de meios para ajudar a senhora, Renan apresentou notas fiscais referentes a venda de bois de sua fazenda em Alagoas. Em 2007, como hoje, ele se dizia vítima de uma perseguição política. (O vice-presidente da Mendes Júnior está na carceragem de Curitiba, por outras empreitadas.)

Ainda não se sabe o que o procurador-geral, Rodrigo Janot, botou dentro daquilo que o ministro Marco Aurélio Mello chamou de “o embrulho”. Há provas de que o dinheiro saiu das empreiteiras e chegou aos políticos, mas falta a última milha da maratona, com a demonstração de que a mala chegou ao patrimônio dos marqueses. No lance da namorada, Renan contou que vendeu bois. Caberá a Teori Zavascki acreditar, ou não.

Há trinta anos, em três livros

No próximo domingo completam-se 30 anos do dia em que a democracia voltou ao Brasil e do início da agonia de Tancredo Neves, que morreria na noite de 21 de abril. Poucas vezes a vida política nacional teve tanta alegria, ansiedade e tristeza.

Quem quiser revisitar a construção da catedral arquitetada por Tancredo Neves, o melhor que tem a fazer é ir a um sebo em busca do livro O Complô que Elegeu Tancredo, dos jornalistas Gilberto Dimenstein, Roberto Fernandes, Roberto Lopes, José Negreiros e Ricardo Noblat. Poucas vezes os bastidores de uma trama política foram contados com tamanha precisão. Como bonificação, o livro mostra um governo em decomposição, com o presidente João Figueiredo sem rumo.

Quem quiser especular como seria a presidência de Tancredo dispõe de Diário de Bordo, do embaixador Rubens Ricupero. Ele estava na equipe do presidente eleito em sua viagem à Europa e aos Estados Unidos. No capítulo O Choque da Viagem, há oito páginas que podem ser lidas de joelhos. Ricupero conta a conversa de Tancredo com o secretário de Estado George Shultz, num dos momentos críticos da negociação da dívida externa brasileira. Shultz foi a Tancredo para dar-lhe um tranco. Tomou outro, monumental. A suavidade de Tancredo era da alma. Ele jamais latiu. Quando mordia, a vítima só sentia a dentada horas depois.

Passada a comemoração do retorno à democracia, começará a lembrança da agonia do grande homem. Tancredo foi para o Hospital de Base de Brasília na véspera da posse e morreu no das Clínicas, em São Paulo, 38 dias e sete cirurgias depois. Desde a primeira hora os médicos mentiram como mercadores de camelos. Essa história está completamente documentada no livro O Paciente – O Caso Tancredo Neves, do jornalista Luís Mir. Ele inclui 137 páginas com os registros hospitalares do presidente que só entrou no Planalto depois de morto.

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